É fruta ou chocolate! É o Santini!

Publicado a
Atualizado a

Attilio Santini é uma lenda em Cascais. Considerado um dos melhores fabricantes de gelados, este italiano viveu uma vida cheia. Na sua história há muito para contar. Já o bisavô Santini fazia gelados, o avô também e o pai igualmente. Três venezianos que tinham uma arte, a de fazer gelados.

Nascido em 1907, Attilio faz parte da quarta geração de fazedores de sorvetes. Começou cedo pela mão do pai, mas a guerra afastou-o desta paixão. Contudo, não iria desistir do seu sonho. Aos 15 anos, Attilio já sabia fazer gelados iguais aos do pai. Foi então que partiu para França. Não começou logo a seguir a sua paixão, trabalhou noutros ramos, passou fome e frio, fartou-se e mudou-se para Nantes, onde jogou futebol profissional. Na altura este desporto não rendia tanto como agora. Por isso, aos 32 anos, foi para Espanha e montou uma fábrica de gelados em S. Sebastián.

Convidado pelo cônsul português em Valência, que era fã dos seus sorvetes, estabeleceu-se em Portugal, estávamos em 1947. Inicialmente dirigiu a geladaria da confeitaria Riviera, nos Restauradores, em Lisboa. Depois ajudou a montar a fábrica Elba, que produzia bolachas, waffers e cones para gelados. Dois anos após a chegada abriu uma loja de gelados com o seu nome na praia do Tamariz. No dia da inauguração ofereceu todos os sorvetes, que passariam a custar um escudo e cinquenta centavos.

Pelo início da década de 60 abriu outro estabelecimento no edifício do Cinema S. José, em Cascais. No ano seguinte, encerra a primeira geladaria e em 66 fecha a segunda. Mas nunca deixou de fornecer os condes de Barcelona e a família real italiana, tal como nunca desistiu do seu sonho. É então que, com o apoio de Joaquim Baraona, em 1971, Attilio Santini reaparece publicamente e abre a casa que ainda hoje se conhece no número 28 F da Avenida Valbom, em Cascais.

A história da família não fica por aqui. Apesar de Attilio ter falecido aos 88 anos - faz amanhã dez anos - deixou uma enorme tradição e um segredo a arte de fazer gelados. O seu sonho continua a ser concretizado, pois a família tem dado continuidade à sua arte e já vai na sexta geração. Eduardo Santini Fuertes, neto do "senhor Santini", dá a cara por esta lenda, na Avenida Valbom, em Cascais.

Após mais de cinquenta anos de história, um texto escrito por Eduardo, que consta no livro de comemoração do quinquagésimo aniversário da geladaria, ilustra bem o que é esta tradição "Quando era pequeno admirava-me como um simples gelado conseguia reunir tanta gente e fazer com que pessoas se deslocassem quilómetros para vir aqui, mas ao longo dos anos apercebi-me de que não era um simples gelado, era uma tradição, é Santini. O sonho de um homem que foi uma lenda, o sonho do meu avô, que, contra tudo e todos, conseguiu impor-se com o seu produto." E prossegue: "Tenho o privilégio de poder continuar a história, a lenda, e espero conseguir fazer jus ao nome Santini e continuar a produzir i gelati piu fini del mondo. Agradeço essa honra aos meus avós e pais por nunca terem desistido e a todos os empregados que connosco trabalharam ao longo destes anos. Agradeço sobretudo aos nossos clientes e amigos, porque foi com eles e por eles que a casa Santini se manteve ao longo destes anos."

A fama de serem os gelados mais finos do mundo chega devido aos brevetti que a família recebeu. Um brevetto é o melhor e mais sublime atestado de excelência gastronómica que um plebeu pode ter, é dado pelas casas reais quando o produto revela qualidade e pureza.

O primeiro "diploma de honra" que os Santini receberam foi atribuído pelo imperador Francisco José, quando a família tinha uma geladaria em Viena de Áustria. O segundo chegou através do rei Vítor Emanuel e o terceiro quando o rei Humberto de Itália encontrou os Santini a servir gelados numas caixas originais. Nesta altura pediu para o pai de Attilio passar a ser o servidor da casa real italiana e atribuiu mais um brevetto pela sua excelência.

A casa real italiana não é a única a ser servida pela família de Attilio. O próprio criou amizade com a família real espanhola e chegou a fornecer gelados para a festa de casamento da infanta Maria del Pilar de Borbón. Os reis de Espanha quando vêm a Portugal aproveitam para comer um gelado em Cascais, assim como muitos outros anónimos que por ali passam.

A comprovar as delícias dos sabores feitos com polpa de fruta e açúcar, sem corantes nem conservantes, estão as filas intermináveis que não desaparecem com o passar dos anos. Poderá saborear um cone - produzidos pela fábrica Melba em exclusividade para esta casa e segundo a receita de Attilio - por um euro e oitenta. Na montra de sabores estão o morango, o limão, a nata, a baunilha, o caramelo, o chocolate, a meloa, a manga, a framboesa, o coco, o pêssego, a avelã, a amêndoa ou a moka.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt