É a Índia uma superpotência económica como a China? (I)

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A superpotência preeminente são os EUA, a emergente é a R. P. China. Mas cada vez mais se fala da Índia como a próxima [terceira] superpotência. Há três critérios que são considerados na definição de uma superpotência - poderio económico, força militar e soft power. Vamos focar-nos na vertente económica e em comparação com a China.

Nos anos 80 do séc. XX, a China e a Índia tinham PIB per capita similarmente baixos. Mas já em 1981, o Banco Mundial comparava a expectativa de vida "excecionalmente alta" da China - 64 anos - com os 51 anos da Índia. Os cidadãos chineses eram mais bem alimentados do que os indianos, dizia o Banco Mundial. Nessa década, os dois países liberalizaram e abriram a sua economia para promover o crescimento económico, tendo ambos acabado por ser casos de sucesso, embora em escalas diferentes. Recentemente, a população indiana superou a chinesa, sendo que a taxa de fertilidade da Índia é o dobro da chinesa, razão por que a população indiana continuará a aumentar, enquanto que a chinesa diminuirá, o que permitirá uma pirâmide demográfica virtuosa de enorme potencial na Índia. Algumas projeções de evolução do crescimento dos PIB das principais potências mundiais colocam a Índia como segunda economia mundial (por PIB total) em 2050. Porém, no final de 2022, o PIB da Índia era de US$ 3.385 biliões enquanto que o da China era de US$ 17.963 biliões. O PIB per capita na Índia era de apenas US$ 2.085 (7.096 em PPP), sendo de US$ 11.560 na China (18.187 em PPP).

Em termos estritamente económicos, embora a Índia tenha tido um crescimento económico extraordinário nos últimos dois anos, ultrapassando o Reino Unido como 5.ª maior economia mundial e crescendo mais rapidamente que a China, durante décadas não foi assim. No início dos anos 2000, a manufatura e as exportações (e o PIB) da China eram cerca de 2 a 3 vezes maiores que os da Índia. Mas o ritmo de crescimento durante 20 anos ditou uma diferença bem maior (7 a 8 vezes).

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Há várias razões para essa diferença. Em termos estruturais, já Lee Kuan Yew, o histórico líder de Singapura, achava que a Índia se tornaria uma grande potência militar, mas não necessariamente próspera economicamente em virtude da sua "burocracia sufocante", da "redução de meritocracia" e da manutenção do sistema de castas. Hoje devemos acrescentar a migração interna dos campos para as cidades. Enquanto 54% dos trabalhadores indianos ainda estão no pouco produtivo setor agrícola, na China essa percentagem é de apenas 24%.

Analisando setorialmente, uma razão para a distância atual consiste na diferença no ritmo de construção de infraestruturas críticas - de transporte, de energia, e de telecomunicações e digital. Em todos estes domínios a China cresceu muito rapidamente, enquanto que a Índia está a avançar mas a um ritmo menos rápido. P/ ex., durante duas décadas a China consumiu mais de 50% do betão mundial - utilizado em construção, mas também numa rede de autoestradas e rodovias rápidas de dimensão similar à dos EUA - e criou a maior rede de ferrovia de alta velocidade do mundo.

Mas as principais diferenças radicam no [investimento em] capital humano - sobretudo na Educação, na Saúde e na qualidade de força de trabalho - na igualdade de género, na ciência e tecnologia, vertentes que abordaremos no próximo artigo.

Consultor financeiro e business developer
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