Dois homens que estavam presos no corredor da morte na prisão de San Quentin, nos Estados Unidos, foram encontrados sem vida no espaço de 48 horas, cerca de um mês depois de um prisioneiro ter sido misteriosamente esfaqueado num pátio de recreio. As autoridades informaram de que a morte de ambos está a ser investigada como suicídios e que não existe indícios de que estejam relacionadas, mas o caso voltou a dar mediatismo a um estabelecimento que tem o maior corredor da morte do país para homens e que já valeu um livro..Situada a norte de San Francisco e aberta em julho de 1852, San Quentin é a prisão mais antiga da Califórnia. Foi apresentada em filmes, programas de rádio e televisão, é assunto de muitos livros, recebeu concertos e hospedou vários presos famosos. Tem câmara de gás, mas as execuções a partir de 1996 são realizadas por injeção letal, embora não tenha ocorrido alguma desde 2006. Acolhe, segundo dados de dezembro de 2016, quase 3800 reclusos, dos quais 740 no corredor da morte, descrito como o maior do hemisfério ocidental e dividido em três secções: a Segregação do Norte, construída em 1934 e destinada a prisioneiros que não causam problemas; o Bloco de Leste, uma espécie de labirinto em ruínas construído em 1927, em que reside a maioria dos reclusos; e o Centro de Ajustamento, para os piores dos piores..Um dos seus prisioneiros mais famosos foi Caryl Chessman, conhecido como o Bandido da Luz Vermelha (The Red Light Bandit em inglês), executado a 2 de maio de 1960 numa câmara de gás depois de ter sido condenado a pena de morte em 1948, acusado de crimes de roubo, rapto e violação cuja prova sempre foi disputada. Foi o último morto na Califórnia por um crime sexual que não resultou na morte da vítima. Mais do que pelos seus crimes, ficou famoso pela forma como dispensou o advogado, estudando Direito para se defender, e sobretudo pelos livros que escreveu, a dar conta da sua causa..Dentro da cadeia, escreveu três obras biográficas, 2455-Cela da Morte (1954), A Lei Quer Que Eu Morra (1955) e A Face da Justiça, e um romance, O Rapaz Era Um Assassino. Os seus livros levaram o seu caso ao público, correram mundo e a sua luta fez o estado da Califórnia, assim como o resto do mundo, refletir sobre a pena de morte. O primeiro foi o mais conhecido, tornou-se um best-seller e foi transformado em filme no ano seguinte. Nele, Chessman contou como o diretor da prisão, Hardley Teets, o convenceu a lutar pela sua vida..Devido a repercussão da obra, o escritório do então governador da Califórnia, Pat Brown, foi inundado por pedidos de clemência, incluindo os de autores e intelectuais como Aldous Huxley, Ray Bradbury, Norman Mailer, Dwight MacDonald e Robert Frost e figuras públicas como a antiga primeira-dama Eleanor Roosevelt e o evangelista cristão Billy Graham. Numa situação difícil, Brown adiou a execução inicialmente agendada para 19 de fevereiro de 1960 por temer que pudesse ameaçar a segurança do presidente Dwight D. Eisenhower durante uma visita oficial à América do Sul, onde o caso inflamou o sentimento antiamericano..De acordo com algumas fontes, o governo californiano tentou promover novo adiamento nos minutos finais, mas um secretário de justiça terá digitado mal o número da central telefónica da prisão. Ainda assim, os onze anos e dez meses que Chessman passou no corredor da morte foi, na altura, o mais longo de sempre nos Estados Unidos.