"Doutora Brinquedos": a série da Disney que chegou à Casa Branca

A série infantil, exibida em Portugal no Disney Junior, é um fenómeno global e até já contou com a participação de Michelle Obama. Conversámos com Chris Nee, a criadora de <em>Doutora Brinquedos</em>
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Já ganhou vários prémios e é exibida um pouco por todo o planeta. A Doutora Brinquedos, uma menina afro-americana que, juntamente com os seus amigos, cura as pequenas e grandes maleitas de brinquedos e bonecos de peluche, foi criada por Chris Nee e é idolatrada por milhões de crianças em idade pré-escolar, que sabem as suas músicas de cor e colecionam o merchandising da série da Disney. Doutora Brinquedos foi renovada para uma quarta temporada mas a sua "mãe" adianta que ainda há muitas histórias para contar. Conversámos com Chris sobre o sucesso da série e o impacto que a sua protagonista tem tido nos mais pequenos.

Quando criou a série, imaginou que alcançasse este sucesso?

Não! Seria de loucos pensar que, quando nos sentámos para criar um desenho animado, tudo isto iria acontecer! Ganhámos prémios, estivemos na Casa Branca e, sobretudo, sabemos que nos tornámos parte do tecido social de uma geração de crianças. Esse é o aspeto mais recompensador.

É também uma responsabilidade!

É, sim! Sinto essa responsabilidade em tudo o que faço mas, sim, se agora fizéssemos asneiras, muitas famílias iriam ficar zangadas (risos)! Temos uma equipa muito apaixonada pela série que faz. Trabalhamos arduamente para contarmos histórias da forma certa.

Ao longo destas quatro temporadas, o feedback dos pais e das crianças tem evoluído?

O que aconteceu é que conseguimos chegar a cada vez mais pessoas, a uma massa crítica e isso é fantástico. Temos, ao longo das temporadas, introduzido temas mais sérios e é interessante verificar que as pessoas respeitam o nível de discurso que pretendemos atingir.

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Que temas vai abordar na quarta temporada da Doutora Brinquedos?

Há muitos episódios em relação aos quais estamos bastante entusiasmados. Temos uma chamado Factory Fabulous ["Fábrica Fabulosa", em português], sobre um boneco ao qual falta um braço e, quando a Doutora Brinquedos lhe faz o diagnóstico, apercebe-se que ele não tem qualquer problema. Temos também outro episódio em que um boneco precisa de uma transfusão de recheio...Sabe, é incrível podermos introduzir temas mais complexos.

Que características é que um adulto precisa de ter para conseguir abordar estes temas para que as crianças percebam?

Os melhores escritores de conteúdos infantis têm uma capacidade inusitada de se lembrarem do que é ser criança. Não são necessariamente infantis no seu dia a dia, mas têm uma clarividência enorme na forma como se lembram dos sentimentos e das emoções que todos temos quando somos mais pequenos. O truque é não imaginar o que é os miúdos possam estar a sentir mas sim lembrarmo-nos do que sentíamos quando tínhamos a idade deles.

O mundo mudou muito desde que a série estreou. Que temas não pensaria abordar há três anos e que agora considera incluir na série?

Recebemos cartas, emails, vídeos de crianças que estão em hospitais e que nos dizem o quão a Doutora Brinquedos é importante para elas. Tornou-se fundamental para mim contar histórias sobre temas mais sérios, sem no entanto tornar a série muito assustadora.

Considera que o facto da personagem principal ser uma rapariga afro-americana tem contribuído para que as meninas tenham a perceção que podem ser o que quiserem? Porque, infelizmente, na maior parte das séries, as protagonistas ou são princesas ou não têm uma ocupação específica.

Acreditamos que estamos a contribuir para essa discussão. Não há dúvidas que precisamos de maior diversidade, não só em termos de quem é mostrado no ecrã mas também nas funções que as personagens desempenham, o que aspiram fazer. O facto de termos uma personagem que sabemos que vai crescer e ser uma pessoa de sucesso é fantástico. Há muitas meninas afro-americanas a dizerem-nos que, quando crescerem, querem ser médicas. Claro que muito pode mudar mas isso é algo fantástico.

Emociona-se ao pensar que a Doutora Brinquedos está a influenciar a vida de milhares de meninas um pouco por todo o mundo?

Sim, claro! Estou muito curiosa para ver o que vai acontecer nas faculdade de medicina, daqui a 20 anos. Não consigo imaginar o que será. Já vemos essas repercussões agora. Já tenho um trabalho espetacular, faço desenhos animados mas é uma grande honra e um privilégio fazer um trabalho que sabemos que estamos a contribuir com algo de bom para o mundo.

Doutora Brinquedos é um fenómeno global. Qual foi o país mais distante do que teve feedback?

A minha mãe esteve recentemente na África do Sul. Estava a fazer uma caminhada com um guia, um senhor com alguma idade, estavam a falar das suas vidas. Ele perguntou-lhe sobre os filhos dela e quando ela disse que eu fazia a Doutora Brinquedos, ele transformou-se por completo, porque os netos veem o programa. Isso é absolutamente fabuloso.

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