Os quatro cães de raça rottweiler que mataram Vira Chudenko, de 59 anos, ucraniana, na Várzea de Sintra, foram abatidos logo no dia do ataque (anteontem), por ordem da procuradora-adjunta do Tribunal de Sintra e sem ter sido cumprido o prazo mínimo de 15 dias estipulado na lei para o despiste da raiva. O seu dono ficou em liberdade, com termo de identidade e residência (TIR)..Orlando, como é conhecido na zona o proprietário dos animais - um macho (pai) e três fêmeas (mãe e duas filhas) - foi ontem ouvido no Tribunal de Sintra e saiu em liberdade, após o juiz de instrução criminal lhe ter aplicado a medida de coacção mais leve (TIR). No entanto, poderá vir a ser acusado pelo Ministério Público de homicídio por negligência, incorrendo numa pena de três anos de prisão ou multa, de acordo com o artigo 137 do Código Penal. Este é o segundo caso de morte resultante de ataques de cães perigosos que chega aos tribunais portugueses. O primeiro foi arquivado e respeitava à morte de um idoso atacado também por um rottweiler, em Leça do Bailio, no ano de 2002..Quanto ao abate dos animais, o DN apurou que a fundamentação da ordem judicial assentava na perigosidade dos canídeos para a sociedade, o que conferiu jurisdição à veterinária municipal para aceitar o abate. A polícia foi chamada ao canil por volta das 19.00 para fotografar e recolher os animais, após lhes ter sido injectada uma substância letal..Até ontem à tarde, a Direcção-Geral de Veterinária - entidade que tutela o sistema de identificação de canídeos perigosos e potencialmente perigosos, consignado na legislação de 17 de Dezembro de 2003 - desconhecia o destino dos cães. "Apenas fomos informados de que se encontravam no canil municipal", afirmou ao DN fonte do organismo. A mesma explicou ainda que o prazo previsto na lei pode não ser cumprido desde que fundamentado. Na altura, "deve ter sido feita a recolha do cérebro dos animais para o despiste da raiva"..GNR alertada na noite anterior.Vira Chudenko morreu pouco depois da 07.00 de quarta-feira, quando foi surpreendida num dos caminhos de Casal da Granja - onde residia com o marido, o pedreiro Fernando Correia - pela família de rottweiller. Na noite que antecedeu a morte, a GNR de Sintra recebeu um comunicado da PSP dando conta de um telefonema anónimo. Alguém terá visto dois rottweiller no local onde a vítima foi encontrada. "Enviámos uma patrulha para a zona, que foi revistada, mas não se localizaram os cães", disse ao DN o capitão Machado, do Comando da GNR de Sintra..Os vizinhos de Vira e Fernando manifestavam-se ontem revoltados com a tragédia, mas, ao mesmo tempo, nada surpreendidos com "esta morte horrível. Aqui é a 'zona in' de Sintra. Há quintas por todo o lado e todas têm cães perigosos. Aos domingos, é vê-los por aí à solta na companhia dos donos que são gente da alta", conta um homem, que pediu o anonimato, mas assegura já ter visto "vários cães sozinhos pelas ruas"..Numa quinta próxima daquela de onde fugiram os animais, o DN viu ontem três cães de raça perigosa (na foto), encontrando-se um deles à solta. Isto, quando o portão da referida quinta se encontrava apenas encostado. Só uma placa de "cuidado com o cão", alertava para o perigo. Mas tal informação não é visível na quinta de Orlando, o qual, na opinião de alguns populares da Várzea, "deveria saber que animais daquela raça fazem trinta por uma linha se não estiverem bem guardados"..Olímpia Viegas, que trabalhou durante anos na zona, concorda e lembra que dois dos rottweiller de Orlando lhe foram oferecidos ainda eram bebés. Mas, depois, "foram treinados por três homens para atacar". Manuel Ribeiro, morador, disse ao DN conhecer o pai de Orlando, com o mesmo nome do filho. "Teve azar", disse. Quanto à vítima, que Manuel conhecia por ser casada com um amigo de infância, lamenta o sucedido. "Logo no dia que poderia ter sido o mais feliz da sua vida, pois ia saber se estava legal no País".