Diplomacia da bossa nova e do pastel de nata

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A Confeitaria Colombo no Centro do Rio de Janeiro já não vende jesuítas nem barriga-de-freira. "A colónia portuguesa já não existe mais, a procura é pequena", explica o Sr. Pereira. Restam os pastéis de nata. E o Sr. Pereira que lembra aos turistas a origem portuguesa da pastelaria, fundada pelas famílias Lebrão e Menezes. O Sr. Pereira recebeu Maria e Aníbal Cavaco Silva com rosto iluminado, no almoço que o presidente ofereceu ontem na Colombo na visita por ocasião da comemoração dos 200 anos da chegada da corte portuguesa ao Brasil - (bacalhau de entrada e pastéis de nata e feijão à sobremesa).

Pereira estava contente como nunca, reparou o camareiro da sala de memórias da casa, velha de cem anos. "Então 'seu' Pereira, feliz? Mais um ponto na história!" A foto que Pereira tirou com Cavaco há-de ir para a galeria onde já está a da Rainha Isabel II, tirada em 68, e a do o Rei Alberto da Bélgica, em 1920.

Cavaco Silva é o primeiro presidente português em exercício a visitar a pastelaria, e isso deve-se a esta maneira mais solta de usar os simbolismos seguida pela entourage presidencial. Coube nela o concerto de Teresa Salgueiro, na noite anterior: uma portuguesa cantando Bossa Nova, galaico-português e a canção açoreana Olhos Negros.

A actual directora do Teatro Municipal, onde foi o concerto, é curiosamente a realizadora do mais polémico filme sobre a família real, "Carlota Joaquina", Carla Camurati, actriz de novelas como Fera Radical. Apresentado, o Presidente lembrou-se do nome dela: "Ah, eu sei, eu li sobre si no livro '1808'..." E desviou a conversa da polémica sobre a má imagem que o filme dá de D. João VI e a mulher, para o belo teatro. A realizadora disse ao DN que Cavaco "foi muuuuuito simpático". Ela está habituada a admoestações. "Na apresentação em Londres foi o embaixador de Portugal. No final, disse: 'Gosta de fazer pilhéria com tudo não é'?"

Apesar de não haver muita notícia nos jornais sobre a visita de Cavaco Silva, a imprensa não se tem coibido de festejar o que o trouxe ao Brasil. Todas as noites o jornal nacional da Globo dedica uns minutos a um pormenor ligado ao tema. O jornal Estado de São Paulo deu-lhe seis páginas e hoje vai sair um especial no Globo com entrevista ao Presidente e um artigo do embaixador português em Brasília, Seixas da Costa chamado "A ver navios".

"Não me lembro de uma comemoração assim", diz o embaixador Costa e Silva, que esteve em Lisboa quando Cavaco era primeiro-ministro, manteve a amizade e foi um dos impulsionadores da homenagem que recebeu ontem no Instituto Histórico e Geográfico. "D. João VI caiu no goto das pessoas. E isso tomou vida própria".

Ontem Cavaco Silva inaugurou com Lula a grande exposição sobre a corte portuguesa no Brasil, hoje estarão os dois no Real Gabinete Português de Leitura, um facto inédito. Domingo, o Presidente celebrará os seus dois anos de mandato com um grande almoço oferecido à comunidade portuguesa.|

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