A Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo quer ressuscitar o Colmeal, uma aldeia abandonada há mais de 50 anos, para o transformar num pólo turístico. Mas a aldeia, no sopé da serra da Marofa, já lhe viu reconhecido o "valor concelhio" através de um despacho datado de 25 de Outubro de 1985. Se para uma única aldeia a salvação parece estar à vista, no interior de Portugal sobram aldeias- -fantasmas..Em 2001, a densidade populacional de Portugal era de 112 habitantes/km2, valor quase idêntico à média europeia, de 114 habitantes, mas com uma diferença abissal: as densidades populacionais mais elevadas encontram-se na faixa litoral oeste até ao Sado e na orla algarvia, enquanto no interior as densidades são muitas vezes inferiores a 20 habitantes por km2..Hoje, o Colmeal não passa de uma enorme aldeia-fantasma, onde apenas é possível reconhecer as ruínas da velha igreja medieval, dedicada a S. Miguel. Nem o Governo, que através de um despacho a tornou Imóvel Classificado, lhe valeu. Quem sobe pela Marofa e encontra o Colmeal apenas ouve silêncios. Desde há muito que as 12 famílias que ali viveram foram empurradas para longe, porque um feitor, subarrendatário, não pagava a renda, há quatro anos àquela que era, de acordo com uma escritura de 1912, a legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros dos condes de Belmonte. .Mas Aires Coelho, um dos últimos a sair da aldeia e que ainda recorda a chegada da força da GNR, tem outra história. O antigo residente garante que o despejo "foi uma apropriação de terras indevidas". E justifica: "Era sede de freguesia e está provado documentalmente que é paróquia, desde 1940." E desde que descobriu esta verdade reclama justiça. .Entretanto, a Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo "está a elaborar um plano estratégico para o desenvolvimento do Colmeal, vai asfaltar os acessos até à aldeia, recuperar os arruamentos e os vestígios da antiga igreja e do cemitério e colocar energia eléctrica", anunciou o presidente. .Mais a sul, já em Mangualde, uma outra aldeia sucumbiu às agruras do tempo. No Coval, "os velhos morreram e os novos casaram-se e abalaram", diz Maria Rita, a última a sair da aldeia. O Coval, "que já teve 12 moleiros e mais de cem pessoas", é hoje uma aldeia deserta, às portas de Mangualde. "Nem a proximidade da A25 ou da cidade, com empregos, lhe valeram." As pessoas foram saindo "para a cidade e de um momento para o outro só estava eu e o meu marido", desabafa. A mulher, hoje com 57 anos, não resistiu à debandada, pôs a casa à venda e mudou-se para a sede da freguesia. Hoje, o caminho é asfaltado, há energia eléctrica mas "ninguém quer ficar sozinho e ninguém lá mora", conclui a idosa..O presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses, Fernando Ruas, que tem defendido a "descentralização de competências" como forma de esbater a desertificação, reclama "uma conjugação de políticas, com meios financeiros nacionais e comunitários, de incidência regional para inverter" esta tendência. Ruas lamenta que os sucessivos governos "nada tenham feito para contrariar o despovoamento do interior". .Também a presidente da Liga para a Protecção da Natureza reclama a "implementação, rápida, de medidas para inverter a desertificação acelerada que estamos a assistir". Alexandra Cunha sustenta que "a chave do problema são as pessoas, mas para isso é preciso criar instrumentos que as ajudem a fixar-se". A ambientalista alerta que "é um problema muito grave que é agravado pela falta de qualidade de vida das populações, sobretudo das regiões raianas". É que "sem pessoas as terras vão ficando menos aráveis, engolidas pela vegetação e cada vez com menores condições de inverter a tendência". .De acordo com Alexandra Cunha, "mais de metade do País pode transformar-se em solo árido se nada for feito, com consequências tão graves como o aumento das assimetrias entre as regiões, criando perdas demográficas, pobreza, abandono e desemprego", conclui.