Desenhos animados mas para maiores de 18

Publicado a
Atualizado a

Se alguma vez pensou como seria uma longa metragem animada produzida pela Zentropa de Lars Von Trier, o IndieLisboa dá-lhe hoje a oportunidade de o descobrir, em Princess, do dinamarquês Anders Mongenthaler (Secção Observatório, Fórum Lisboa, 22.15). Dica: não tem absolutamente nada a ver com o que nos habituámos a ver com o selo da Disney ou da DreamWorks.

Exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes 2006, Princess conta a história de August, um padre que entra no submundo da pornografia e da prostituição, para tomar conta de Mia, a sua sobrinha de cinco anos. A mãe desta, uma notória vedeta do hardcore, conhecida no meio por "Princesa" (daí o título do filme), foi assassinada e Mia não tem mais ninguém no mundo senão o tio.

August descobre que a sobrinha foi vítima de abuso sexual e que o meio em que cresceu negou-lhe a inocência característica de uma criança da sua idade. Chocado e enfurecido, o tio exige ao pornógrafo e dono da produtora dos filmes da irmã que destrua todo o material em que ela aparece. Naturalmente, o pedido é recusado, e o padre transforma a sua indignação em vingança violenta. (Ela incorpora também um elemento de penitência, revelado quando a história já vai adiantada, e que ensombra a motivação do herói.)

Princess é uma parábola antipornografia que recorre ao sexo explícito, à linguagem desbragada e à ultraviolência para levar a água ao seu moinho (por exemplo, August descobre o paradeiro da irmã após ver um filme em que esta, grávida, é obrigada a ter relações sexuais com um grupo de homens). Curiosamente, a própria Zentropa produz, desde 1997, filmes para adultos através da sua etiqueta Puzzy Power, caso de All About Anna, de Jessica Nilsson, ou de Constance, de Knud Vesterskov, este o filme de sexo de maior sucesso de sempre na Dinamarca.

Morgenthaler rodou Princess combinando animação convencional e digital, e usou imagens reais e actores de carne e osso nos flashbacks. O filme tem a personalidade de uma anime com sensibilidade europeia e influenciada pelo cinema de pós-exploitation americano feito por Tarantino ou Robert Rodriguez. Decididamente, estamos muito longe dos ursos gulosos, das vacas cantoras e dos pinguins dançarinos. |

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt