Declínio populacional, deslocalização empresarial e mudanças estruturais na economia chinesa

Publicado a
Atualizado a

Anunciada pelo Gabinete Nacional de Estatísticas da China, a diminuição em 2022 de 850.000 pessoas na população chinesa vem confirmar as previsões demográficas da ONU de uma contração da população chinesa para cerca de 767~775 milhões em 2100, dependendo da evolução da taxa de fertilidade na China e da imigração. Os peritos da ONU reformularam as estimativas e, com base no Census de 2020, reviram a população da China em -18,5 milhões e a diminuir em 109 milhões até 2050 (mais do triplo do declínio da sua previsão anterior, em 2019). Para além disso, na China, a idade legal para a aposentação é baixa (60 anos para os homens; 50~55 anos para as mulheres) e provém dum período em que a estimativa de vida era bem inferior à atual (o governo chinês já anunciou a extensão gradual dessas idades).

ImagensimagemDN\\2023\\02\ g-d76a8f3f-0427-4764-a743-9393cde5332d.png

Para o economista-chefe do HSBC para a Ásia, Frederic Neumann, "a economia chinesa está a entrar numa fase de transição crítica, não podendo mais contar com uma força de trabalho abundante e competitiva em custos para impulsionar a industrialização e o crescimento" [com base na produção de bens intermédios na cadeia global de abastecimento]. Para evitar uma desaceleração económica e uma recessão industrial no país - prevista por Yi Fuxian, demógrafo especialista, como resultado do declínio populacional - o governo chinês, em linha com um aumento das qualificações profissionais nas gerações menos idosas, pretende reformar o aparelho produtivo para a produção de bens com maior valor acrescentado, com vista a posicionar a China como uma potência global em indústrias de alta tecnologia, apostando em dez setores estratégicos identificados no programa Made in China 2025 - tecnologia de circuitos integrados e novas TI; maquinaria de controlo manufatureiro e robótica de ponta; equipamento aeronáutico e aeroespacial; equipamento de engenharia oceânica e transporte marítimo de alta tecnologia; equipamento moderno de transporte ferroviário; veículos movidos a novas energias; equipamento de energia; novos materiais críticos; biomedicamentos e equipamento médico de ponta; maquinaria e tecnologia agrícolas.

Muitas empresas chinesas estão dependentes do acesso a inovação e alta tecnologia a montante na cadeia de valor, sendo que muita dessa inovação e tecnologia se encontra em países ocidentais e seus aliados. As restrições à exportação de semicondutores de alta qualidade são um bom exemplo da situação dilemática presente da China. Enquanto que os fabricantes de produtos manufaturados já estão em rápida deslocalização para Bangladesh, Paquistão, Vietname e África, as empresas chinesas operando com alta tecnologia (IA, supercomputadores, machine learning, quantum computing, IoT e comunicações sem fio avançadas) estão a ficar impedidas de competir com empresas de primeira linha com acesso ilimitado a equipamentos de fabricação de semicondutores e software, e a deixar de integrar essas cadeias de valor. Denegar esse acesso em nome da contenção de um "rival estratégico" (a presente estratégia dos EUA) ou facilitá-lo com base num engajamento construtivo (a anterior estratégia dos EUA e, até recente data, a prevalecente na UE) é algo que necessitamos debater seriamente na Europa, tendo presente que os interesses dos EUA e da UE nem sempre coincidem.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt