De cara colada aos espectadores

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Um alvo em movimento: terá sido assim que se sentiram os madrilenos enquanto tentavam encontrar o melhor lugar para ver o desfile nupcial ou quando, já instalados, se esticavam sobre as grades de protecção.
Em todas as estradas, com a cara a dois palmos dos espectadores da primeira fila, estava um autêntico cordão policial - com os agentes, imóveis, a fitar de forma ameaçadora tudo o que mexia.


No lado de dentro dos passeios ficavam os seus duplos, contemplando da mesma maneira os que se atoavam mais atrás e parando transeuntes para os revistar e confirmar identificações. Em muitas ruas, eram mais do que os cidadãos.


Nos telhados, terraços e em muitas varandas estavam também forças policiais - alguns seriam os tais franco-atiradores, outros não se veriam sequer porque o seu trabalho é passarem despercebidos.


Dois helicópteros acompanharam em permanência o Rolls-Royce que levava Felipe e Letizia . O ambiente era festivo, mas um certo peso abafava as ruas: o peso das miras que as percorriam a todo o momento. Nada poderia ser igual depois dos atentados de 11 de Março, a população sabia-o e encarava as draconianas medidas de segurança como uma inevitabilidade. Mesmo quando estas pareciam tão arbitrárias quanto irracionais: os jornalistas não podiam subir ao terraço do seu próprio hotel - « é preciso umas credenciais espe- ciais» -, mas podiam fazer pontaria aos noivos com as suas máquinas fotográficas a partir da varanda de um quarto situado logo abaixo.


As lojas permaneceram abertas, mas os poucos candidatos a clientes eram meticulosamente revistados à entrada. À saída já não. Avançar 20 metros implicava completar o triplo da distância, tal a miríade de ruas que era preciso contornar. Atravessá-las, nem pensar.


No limite do perímetro de segurança formavam-se filas para passar os detectores de metais. Os polícias, muitos de turno «desde as duas da manhã», vieram de toda a Espanha para vigiar esta boda. Alguns pediam desculpa pelo incómodo. Para outros, todos pareciam suspeitos. No final, receberam uma salva de palmas quase tão estrondosa como aquela que saudou o beijo dos príncipes, quando começaram a dispersar da Plaza de Oriente, em frente ao Palácio Real.

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