O candidato a secretário-geral do PS Daniel Adrião defendeu hoje que a direção socialista fez uma condenação antecipada de José Sócrates, um ato de 'bullying' ao qual o antigo primeiro-ministro "reagiu com grande dignidade" ao desfiliar-se do partido.."Acho que a direção do PS violou um princípio que vigorava há mais de três anos e que o próprio António Costa tinha instituído: à política o que é da política, à justiça o que é da justiça. Estas declarações recentes romperam com esse princípio e constituem, na minha perspetiva, uma tentativa de condenação política antecipando o desfecho judicial do processo", defendeu Daniel Adrião à Lusa..O candidato à liderança socialista argumentou que, "a tradição do PS não está no 'bullying' político e José Sócrates foi claramente alvo de um processo de 'bullying'".."Que os adversários do PS o tentem fazer ainda compreendo, faz parte da luta política, embora não é muito edificante que sejam os próprios dirigentes do PS a fazê-lo. Acho que é algo absolutamente inaceitável e incompreensível e os militantes do PS não compreendem este tipo de conduta por parte dos dirigentes do partido", sustentou..Para Daniel Adrião, José Sócrates "reagiu com grande dignidade, porque as acusações que lhe estavam a ser feitas por parte da direção do seu próprio partido não lhe deixaram outra alternativa se não desvincular-se".."São acusações muito graves, é a assunção da culpabilidade antes das instâncias judiciais", reiterou, acrescentando que "ao produzir este tipo de declarações, a direção do PS, de facto, colocou no centro do debate político e do Congresso a discussão sobre José Sócrates"..Daniel Adrião considera que "o debate substantivo sobre as propostas, sobre as ideias" no Congresso socialista, marcado para 25, 26 e 27 de maio, ficará prejudicado..O candidato recordou as suas próprias propostas para "introduzir uma reforma profunda no modelo de funcionamento do partido, através de eleições primárias para a escolha de titulares de cargos políticos" e medidas para estabelecer "maior participação e maior transparência".."O melhor antídoto contra a corrupção e o abuso de poder é uma reforma do sistema político que imponha regras de transparência, de participação, de escrutínio, de fiscalização. Só assim podemos combater os abusos de poder", disse..Na quinta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que em Portugal ninguém está acima da lei e que, "a confirmarem-se" as suspeitas de corrupção nas políticas de energia por membros do Governo de José Sócrates, será "uma desonra para a democracia"..Antes, o presidente do PS e líder parlamentar Carlos César tinha afirmado à TSF, que "o PS sente-se, como os partidos, a confirmar-se o que é dito, envergonhado" com o caso de Manuel Pinho. No caso de Sócrates, a vergonha "até é maior", disse, porque o antigo líder socialista foi primeiro-ministro de Portugal..No mesmo sentido, o porta-voz do PS, João Galamba, afirmou: "Acho que é o sentimento de qualquer socialista, quando vê ex-dirigentes, no caso um ex-primeiro-ministro e secretário-geral do PS acusado de corrupção e branqueamento de capitais. Obviamente, envergonha qualquer socialista, sobretudo se as matérias de que é acusado vierem a confirmar-se"..José Sócrates, 60 anos, é o principal arguido na Operação Marquês, em que está acusado de vários crimes económico-financeiros, incluindo corrupção e branqueamento de capitais..No âmbito da investigação, esteve preso preventivamente durante 288 dias, entre novembro de 2014 e setembro de 2015..Sócrates aderiu ao PS em 1981, e foi secretário-geral do partido entre 25 de setembro de 2004 e 06 de junho de 2011..Em 2005, obteve a primeira maioria absoluta do PS em eleições legislativas e foi primeiro-ministro até 2011, depois de o seu Governo ter pedido ajuda financeira ao Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu..Num artigo publicado hoje no Jornal de Notícias, José Sócrates disse que a sua saída do PS visa acabar com um "embaraço mútuo", após críticas da direção que, na sua opinião, ultrapassam os limites do aceitável.