A Última Ceia, que Leonardo da Vinci pintou directamente na parede do refeitório da Igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, entre 1495-1498, e que se tornou na imagem mais famosa e difundida daquela última celebração de Jesus com os Apóstolos, continua a ser objecto dos mais diversos estudos. O último, feito por investigadores da faculdade de teologia da universidade de Montreal (Canadá), debruçou-se sobre o significado de alguns alimentos sobre a mesa pintada por Leonardo, como o sal e o peixe, que, segundo o relato dos evangelistas, não constaram da última ceia. .Desde que a pintura de Leonardo da Vinci se tornou famosa, houve estudos sobre as técnicas ali usadas, sobre as tintas e sobre a complexa a interacção entre Jesus e os discípulos evidenciada na imagem. .Há dias, investigadores da universidade de Cornell, nos Estados Unidos, lembraram-se também de comparar as porções dos alimentos naquele quadro, nos anteriores e nos que se lhe seguiram sobre o mesmo tema, pintados pelos mestres que antecederam e sucederam a Leonardo ao longo do último meio milénio. Analisaram um total de 52 pinturas..Nesse estudo, Brian Wansink, que dirige em Cornell o laboratório dedicado aos alimentos e alimentação, chegou à conclusão de que a quantidade dos alimentos pintados nos quadros sobre a última ceia aumentou gradualmente nos últimos mil anos entre 23 por cento (quantidade de pão) e 69 por cento (o tamanho dos pratos). .Agora foi a vez de um grupo de investigadores da Universidade de Montreal lançar um outro olhar sobre os alimentos na pintura de Leonardo da Vinci.."Perguntámo-nos porque razão Da Vinci teria escolhido pão, peixe, sal, citrinos e vinho, quando alguns deles não são mencionados pelos evangelistas. E porque está o saleiro caído frente a Judas ou porque motivo o pão é levedado?", explicou Olivier Bauer, um dos investigadores, citado pela Science Daily..As respostas que Oliver Baur descobriu apontam, por exemplo, para o facto de um saleiro tombado ser tradicionalmente um sinal de azar. E especulam que, em vez de apontar a sua traição, esse saleiro sugira a sua reabilitação. .Judas poderia ter sido escolhido para o papel de traidor, sugerem. Ele é o único que tem o prato vazio o que pode significar que ele é o único que conhece a verdade (em relação a si próprio)..O peixe que está na mesa é outro enigma, e tem sido igualmente objecto de inúmeras especulações. Parece claro que sublinha o facto de Jesus ter passado a maior parte da sua vida junto ao rio Tiberíades e de ter convocado os apóstolos entre os pescadores locais. .O que não é claro é se o peixe que está no prato se trata de arenque ou de enguia. E os nomes em italiano (aringa) e (renga, no Norte de Itália) assemelham-se a outras palavras italianas que significam doutrinação, no primeiro caso, e herege, no segundo. .Neste caso em particular, Leonardo Da Vinci teria sido, assim, deliberadamente ambíguo em relação ao peixe.