Da "vergonha" de uma aliança entre Feijóo e Vox às "mentiras" de Sánchez

Campanha começou esta sexta-feira, com PSOE e PP a insistir na mesma mensagem da pré-campanha. Ida às urnas a 23 de julho, em pleno verão, está a causar dificuldades.
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A campanha eleitoral começou esta sexta-feira oficialmente em Espanha, mas a mensagem dos próximos 15 dias promete não ser muito diferente daquela que tem sido expressa praticamente desde que o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, anunciou a antecipação da ida às urnas para 23 de julho (após o desaire eleitoral dos socialistas nas autonómicas e locais). O PSOE usará todas as oportunidades para chamar a atenção para a "vergonha" das alianças do Partido Popular (PP), de Alberto Núñez Feijóo, com a extrema-direita do Vox, de Santiago Abascal. Já o principal partido da oposição insistirá nas "mentiras" de Sánchez e na necessidade de "revogar" o sanchismo.

O líder socialista quer mobilizar o eleitorado de esquerda, considerando que este esteve apático nas eleições municipais e autonómicas de maio, pedindo o apoio de todos. "Peço o voto a quem sempre confiou no PSOE. Mas, nesta contenda, precisamos de muitos mais apoios", disse Sánchez esta sexta-feira. "Peço o voto a quem votou noutras opções políticas. Peço o voto inclusive a quem votou no PP e se sente envergonhado pelos pactos de Feijóo com Abascal", acrescentou.

Sánchez apresentou esta sexta-feira o programa socialista, que inclui a gratuitidade dos transportes públicos urbanos até aos 24 anos e das propinas para os alunos do ensino superior que passem à primeira. Os socialistas querem ainda construir 183 mil casas públicas, metade delas destinadas aos jovens. Já na pré-campanha tinham sido anunciadas outras promessas eleitorais, como a redução das listas de espera nos hospitais - com um utente a não poder esperar mais do que 120 dias por uma operação.

Prometeu ainda uma "estratégia nacional para o trabalho flexível", com reformas e incentivos às empresas para que permitam uma "melhor conciliação" entre a vida pessoal e profissional. Quer que no futuro "os espanhóis trabalhem para viver e não vivam para trabalhar". Neste âmbito, já tinha também sido prometido o aumento da licença parental das 16 para as 20 semanas.

Como é tradição em todas as suas campanhas, Feijóo esteve na aldeia em que nasceu em Ourense, na Galiza. "Os Peares são o meu princípio e os meus princípios. Venho aqui dar a minha palavra: não vos vou defraudar", afirmou ainda na quinta-feira. À meia noite de sexta-feira começou oficialmente a campanha eleitoral. Ainda antes, Feijóo acusou Sánchez de "mentir" por prometer entregar à justiça o ex-líder catalão Carles Puigdemont (por causa do referendo independentista de 2017), mas este disse que afinal lhe terá prometido um indulto. "Sánchez mentiu-nos e tem que pedir desculpas ao país", referiu num comício na Catalunha.

O líder do PP tem pedido uma maioria absoluta para governar sozinho, apesar de o partido a ter que chegar a vários acordos com o Vox a nível regional. Todas as sondagens apontam para a vitória do PP, mas sem essa maioria - que também não está garantida numa eventual aliança com o Vox. A maioria no Congresso é de 176 deputados. A sondagem 40db, para o El País e Cadena Ser, por exemplo, dava esta sexta-feira 31,3% das intenções de voto ao PP (127 deputados), 29,5% ao PSOE (113 deputados), 14,8% ao Vox (42) e 13,4% ao Sumar (37), a aliança da esquerda progressista da vice-primeira-ministra Yolanda Díaz (ver página 20). Outros partidos têm 11% (31).

Além do PSOE, também o Vox apresentou esta sexta-feira o seu programa. Entre as medidas está uma redução dos impostos - incluindo acabar com o IVA na compra de primeira habitação e reduzi-lo nos produtos de primeira necessidade. O partido de Abascal quer ainda um referendo para revogar as leis de identidade de género, prometendo também revogar a atual lei do aborto e a da eutanásia e acabar com o Ministério da Igualdade - dando lugar ao Ministério da Família. O Vox propõe também acabar com os partidos independentistas e suspender a autonomia das comunidades que atentem contra a unidade de Espanha.

Na Saúde, defendem que deverá voltar ao controlo do Governo central, apostando nos acordos com os privados para cortar listas de espera. Já na Educação, apesar de defenderem a educação pública "gratuita, exigente e de qualidade", querem dar a cada família um cheque para que escolha a escola onde os seus filhos devem estudar - mesmo se for privada. Em questões ambientais, querem revogar a lei das alterações climáticas e deixar o acordo de Paris.

A campanha está lançada mas tem este ano uma incógnita, por decorrer em plenas férias de verão (um quarto dos eleitores podem não estar em casa). O número de pessoas que já pediram para votar por correio chega aos dois milhões, um recorde, com apelos ao reforço de funcionários nesta área para evitar problemas - nas eleições autonómicas e locais houve casos de fraude. As autoridades estão também a ter dificuldade a encontrar pessoas para as mesas de voto.

susana.f.salvador@dn.pt

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