O PCP realizou este congresso dentro da mais pura continuação da sua cultura organizacional: do «centralismo democrático» para o aparelho. Que neste contexto significa «da vanguarda para a minoria». Um caminho de trinta anos. No centro um personagem que só a cultura portuguesa e a cultura marxista-leninista podia criar: Álvaro Cunhal. Esse mesmo Álvaro Cunhal que se deixou entrever através das entrevistas e da sensibilidade de Maria João Avillez como a pretender filiar-se num Portugal profundo e misterioso..O verdadeiro debate deste congresso deveria intitular-se «como ser vanguarda em democracia». Em vez disso, foi o congresso da passagem dos autarcas e deputados comunistas para os comunistas jovens do aparelho. Não haverá assim evolução ideológica mas a marca da mesma presença no futuro..Um aparelho renovado que dispensa a hegemonia dos quadros mais enraizados na sociedade política ou civil. Apesar de tudo, Carlos Carvalhas era um secretário-geral com experiência governativa, sólida informação económica e financeira, ou seja, constituía uma ponte entre o aparelho e o País..Este congresso também foi o congresso do mistério da substituição de Carlos Carvalhas e do significado desta..Da sua sucessão são arredados os ex-clandestinos e os quadros mais ligados à actividade geral do País. Nem Domingues Abrantes nem Ruben Carvalho. Nem Carlos Costa nem Carvalho da Silva ou Ilda Figueiredo..A escolha de Jerónimo de Sousa é a recusa da opção entre vanguarda e reformismo. É uma homenagem do PCP aos militantes operários que se formaram politicamente no período revolucionário e no regime democrático. Uma ambivalência sugestionante que Álvaro Cunhal deixa em testamento. Mesmo que não seja uma criatura de Cunhal, Jerónimo de Sousa, como operário que se cultivou, é uma criação simbólica do tipo social imaginado pelo intelectual dos anos trinta para dirigir um partido comunista..À primeira vista, o novo secretário-geral do PCP não será membro de nenhum Governo de Portugal. Quem vier a negociar com o PCP uma maioria parlamentar para governar terá de perceber porquê. .Este congresso não opta pelos autarcas, deputados ou sindicalistas com projecção externa ao PCP. Vira-se para a colegialidade interna.