As formas puras de Malevich . Os espaços filosóficos de Kandinsky. Os voos irreais de Chagall. A consciência de que a arte pode, mais do que explicar o mundo, ajudar a transformá-lo. E criar imagens poderosas ao serviço da revolução. É assim, no plural, que as Vanguardas Russas se apresentam na capital espanhola até 14 de Maio, no Museu Thyssen-Bornemisza e na Fundación Caja Madrid..Preparada nos últimos dois anos com os museus estatais russos - nomeadamente, o de Sampetersburgo, Pushkin e Galeria Tretiakov -, esta sexta co-produção entre o Thyssen e a Caja Madrid está orçada em 1,25 milhões de euros. Reunindo 284 peças de vários países (ver caixa). .Como explicou durante a visita guiada ao DN o curador, Tomàs Llorens (ex-conservador-chefe do Thyssen), a ideia é "tentar sintetizar as mais recentes pesquisas sobre as vanguardas russas e estabelecer um quadro que possa ser compreendido pelos visitantes". Datado de entre 1907 e 1930, ano em que a ditadura de Estaline mataria a esperança que alimentou estes artistas inovadores.."Foram 'eliminados' por pressão política e depois da II Guerra Mundial desapareceram de cena, pelo que não houve consciência na Europa, até aos anos 80, da importância histórica da arte russa", justifica..Da tradição à abstracção.Dividida em duas partes, Vanguardas Russas começa mas galerias do Museu Thyssen-Bornemisza. Com as primeiras experiências, a partir de 1907, em torno da revitalização das tradições populares..O sonho de uma nova cultura, liberta da influência europeia, moveu então Kandinsky e Jawlensky, ainda ligados ao Simbolismo. Mas também - em retratos de famílias, padeiros ou lutadores de inspiração nacionalista e pictoricamente naifs - Mash- kov, Pirosmanachvili ou Larionov e Goncharova (Malevich seguiria os passos do casal, como o demonstra Rapaz, de 1928-29, neste núcleo)..O Cubismo Futurista e as pesquisas formais sobre a interacção com o espaço, como colagens de Kruchenij e as esculturas de Tatlin (caso de Contra-relevo de Esquina, de 1914), abrem campo às experiências individuais..À margem das formações artísticas, três nomes ganham destaque. Chagall, de quem se podem ver obras em papel e telas como A Casa Azul, de 1917, ou Aparição (Auto-retrato com Musa), de 1917-18. Kandinsky, com as suas composições metafísicas e várias aguarelas. E Pavel Filonov, com visões labirínticas inspiradas na Rússia medieval, "o mais nacionalista dos vanguardistas, que de certa forma antecipa o surrealismo"..As abstracções orgânicas de Matiushin ou dos irmãos Ender, espécie de cosmogonias alicerçadas na música e na decomposição da cor, ajudam já a entender em que ponto criativo se encontrava a Rússia quando aconteceu a Revolução de 1917..A formação do 'homem novo'.A dialéctica entre arte e acção político-social está no espaço da Caja Madrid. Dominada pela reprodução virtual do Monumento à III Internacional de Tatlin, a galeria principal exibe as primeiras respostas suprematistas e construtivistas: a supremacia da "pura sensação" traduzida por Malevich nas formas negras do quadrado, círculo e cruz, e a combinação de volumes e geometria nas construções de Rodchenko. .Deste podem ainda ver-se, ao lado de El Lissitsky na secção dedicada à fotografia, provas de época (incuindo retratos de Maiakovski e ensaios para ilustrações de livros e cartazes)..As artes gráficas ao serviço da propaganda constituem outro núcleo, com dezenas de livros e revistas, postais, litografias e cartazes. O espírito da obra de arte como instrumento para a formação do "homem novo" seria também usado em loiças, bandejas, tinteiros ou tecidos.