Crítica: 'Castrati', por Bernardo Mariano

Publicado a
Atualizado a

Os castrados foram parte inseparável do espectáculo operático nos séculos XVII e XVIII e componente relevante da música religiosa por mais tempo ainda. Milhares de rapazes foram castrados neste período, mas só uma pequena percentagem alcançou a excelência no canto e consequente estrelato internacional.

Por um lado, o castrado supria a interdição de mulheres cantarem em igrejas, no caso da música religiosa; mas, por outro lado, a figura do 'castrato' ia de encontro à própria conformação do homem barroco, com o seu culto pelo bizarro, o excêntrico e a sua propensão para o deleite, a extasia estética. E, nessa perspectiva, a combinação da aparência física com a qualidade da voz ofereciam à partida um espectáculo "exquisit" ao frequentador dos teatros de ópera barrocos.

O apogeu desta "classe" de homens cirurgicamente modificados para se tornarem autênticas "máquinas de belcanto" foi do último terço do século XVII até aos alvores do Classicismo, detendo os mais notáveis um estatuto comparável às actuais estrelas de cinema. O último 'castrato', Alessandro Moreschi, faleceu em 1922 e deixou a voz eternizada em algumas gravações.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt