Com o agravar da crise, os cirurgiões plásticos falam de menos consultas, adiamento de intervenções e desistência por recusa de financiamentos. Em alguns casos as quebras na procura chegam aos 50%. Ainda assim, um núcleo de especialistas resiste às dificuldades económicas que têm ensombrado o País. E há até quem tenha batido recordes em algumas intervenções que não implicam cirurgia, mas apenas o preenchimento com agulha..O especialista Fernando Exposto, que recebe doentes em várias clínicas de Lisboa explica que o número de cirurgias plásticas caiu entre 40% e 50%. Os clientes vão à consulta, têm vontade de fazer a intervenção, dizem que vão "pensar", que vão "falar com o marido", mas "desde que a crise começou voltam menos", resume o especialista. Estão a estabelecer outras prioridades e mostram-se mais reticentes em gastar dinheiro, na perspectiva de que as coisas vão piorar..O cirurgião Manuel Oliveira Martins, da Clínica M6, também na capital, também denuncia "uma pequena redução na procura", com os pacientes a adiar as cirurgias, à espera de um momento mais favorável. .No entanto, Vítor Fernandes, o presidente do Colégio da Especialidade de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética, da Ordem dos Médicos, afirma que "espantosamente" não tem notado "grande retracção no mercado", mostrando-se "de pé atrás" em relação ao que pode acontecer em 2011..A colocação de próteses mamárias e as lipoaspirações (ver infografia) continuam a ser as intervenções mais procuradas pelas portuguesas..Em clínicas como as de Biscaia Fraga, Ângelo Rebelo e Clara Ferreira não só não tem havido uma redução como o volume de trabalho tem aumentado. No caso da Mymoment, a clínica administrada por Clara Ferreira, verificou-se mesmo um aumento da ordem dos 100%, contando-se entre as intervenções com maior procura as minimamente invasivas, como os preenchimentos faciais com macrolane, um composto baseado em ácido hialurónico, que tem efeitos semelhantes ao botox e é procurado sobretudo após os 40 anos por mulheres e homens. .O mesmo reconhece Ângelo Rebelo, que aponta um crescimento de 30% a 40%, nos últimos três anos, na medicina estética, que só requer agulha e dispensa o bisturi. "Um acréscimo muito superior ao da cirurgia", em que regista cerca de 1500 a 2000 intervenções por ano..Porém, os especialistas recusam a ideia de que as pessoas estejam a optar por este tipo de procedimentos menos invasivos por serem mais baratos. São os pro- cedimentos mais indicados para os seus problemas, argumentam. Como acontece quando uma pessoa com 30 e poucos anos está preocupada com os primeiros sinais de envelhecimento, mas não tem muitas rugas, flacidez ou pele estragada, e é aconselhada a fazer um tratamento de rejuvenescimento. Uma intervenção que não implica "nenhum tempo de incapacidade", assegura Ângelo Rebelo, e é menos agressiva, e permite uma recuperação mais rápida. .Nas cirurgias, pelo contrário, a recuperação estende-se ao longo de uma a três semanas e os resultados finais só são visíveis três a seis meses depois. Pelo que, se é possível "atingir o mesmo resultado sem intervenção", as pessoas preferem esta opção. Quem o explica é o departamento de comunicação da Corporación Dermoestética, a empresa que chegou a Portugal há dez anos..Mas quem fornece material para as clínicas também fala em quebras. João Morais, director comercial da ASC Advanced Skin Care, que distribui dispositivos médicos, fala numa redução da procura de material para cirurgia e tratamentos de medicina estética, que ultrapassa os 20%. Com o mercado a ficar cada vez mais sufocado pelas demoras do Estado no pagamento das contas e o sector privado a consumir menos, em parte por causa das limitações no acesso ao crédito para financiar intervenções estéticas..Para João Morais, os "preenchimentos polivitaminados", com ácido hialurónico, microesferas ou toxina botulínica A, estão a "substituir o orçamento cirúrgico", no rejuvenescimento facial e mesmo no aumento mamário. A sobrevivência está na aposta no mercado internacional e na diversificação da oferta.