Quando se julgava que o impacto negativo das alterações do Governo nos juros dos certificados de aforro (CA) estava a abrandar, eis que, em Julho, o volume de saídas volta a acelerar. No mês passado, saíram deste produto 120 milhões de euros líquidos, um aumento face às perdas de 85 e 97 milhões em Junho e Maio, respectivamente. E que representa um regresso aos montantes negativos dos primeiros três meses após a criação da série C. Em termos acumulados, os CA contam, actualmente, com menos 724 milhões que em Janeiro.. De acordo com os dados do instituto público que gere dívida pública (IGCP), a nova série - C - criada pelo Governo em Janeiro já registou 596 milhões de euros em subscrições. As saídas totalizam 1320 milhões e verificaram-se, esmagadoramente, nas séries antigas - A e B -, na sequência de um corte dos juros operado pelo Ministério das Finanças.. A fuga de um dos produtos de aforro mais populares entre os portugueses explica-se pela conjugação das deterioração das condições de remuneração - juros mais baixos nas séries A e B e prémio de permanência menor na C -, com a agressiva promoção pela banca das suas soluções de aforro , em especial os depósitos a prazo (ver entrevista em baixo). E acontece numa altura em que a crise económica está a afectar o rendimento disponível das famílias. .Curiosamente, as saídas dos CA verificam-se em paralelo com a subida das taxas Euribor, o indexante das remunerações das três séries (ver gráfico). Uma situação que dá ainda mais solidez às decisões dos aforradores, atraídos pelas taxas de dois dígitos dos depósitos a prazo e descontentes com a decisão do Governo em alterar as condições deste produto. .As mudanças implementadas em Janeiro baseiam-se num estudo de- senvolvido pelo IGCP, a que o DN teve acesso (ver caixa). Nesse documento, é quantificado em 140 milhões o sobrecusto do Estado com os CA, comparativamente a outros produtos de dívida (OT e BT - obrigações e bilhetes do Tesouro). Contudo, a crise financeira alterou os pressupostos destes cálculos. E, neste momento, o Governo está a pagar taxas em torno dos 4,4% na colocação de OT, devido à subida dos custos de financiamento provocados pela resistência dos mercados em emprestar dinheiro. Nos certificados, a remuneração está nos 3,99% (série C) e 2,99% (séries A e B). Sem contar com a receita fiscal que, no caso das OT, fica no estrangeiro (onde as emissões são maioritárias), ao contrário do que acontece com os CA..Entretanto, o provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues, tem na sua posse uma queixa da Associação de Defesa dos Consumidores de Produtos Financeiros (Sefin) quanto à irregularidade destas alterações. Até agora, o provedor ainda não se pronunciou.