A família de Kim Ok-kyung pode mandar desligar hoje os aparelhos de apoio que mantêm viva esta idosa, de 77 anos, em estado vegetativo desde Fevereiro, devido a uma endoscopia mal conduzida..Naquela que é uma decisão histórica, o Supremo Tribunal da Coreia do Sul decidiu que "manter a vida [de Kim] não tem sentido e vai contra o seu desejo de morrer com dignidade", lê-se no acórdão divulgado ontem em Seul..O acórdão defende que esta decisão - que confirma o veredicto de instâncias judiciais inferiores - corresponde ao direito de "prossecução da felicidade" pela vítima. .Em Novembro, um tribunal de Seul decretara a suspensão da alimentação e ventilação artificiais de Kim, depois de aceitar as declarações dos filhos de que a sua mãe sempre mostrara contrária à manutenção da vida por meios artificiais. Um tribunal de segunda instância pronunciou-se no mesmo sentido..A importância desta decisão radica no facto de, segundo a actual legislação sul-coreana, a suspensão do funcionamento de sistemas de apoio à vida equivaler à prática de homicídio. .Em Fevereiro de 2008, os médicos do hospital de Severance, em Seul, tinham decretado a morte cerebral de Kim como resultado de uma endoscopia mal conduzida, que resultou numa hemorragia interna..Segundo a família da idosa, esta afirmara que "não pretendia continuar viva ligada a máquinas, se não houvesse hipótese de recuperação". Um jornalista dum diário sul-coreano em língua inglesa, The Korea Time, que visitou Kim há cerca de seis meses, referia ontem naquele jornal que a idosa conseguia mover os olhos e os dedos, mas estes sinais não indicavam qualquer hipótese de recuperação, segundo os médicos ..Foi com base neste quadro que o acórdão estabeleceu que "um doente em fase terminal, não existindo nenhum tratamento médico eficaz, quando manter a vida não resulta em nada mais do que uma situação vegetativa para o paciente, quando este abordou a questão da suspensão dos sistemas de apoio à vida numa situação de sanidade e coerência, e havendo fundamento em opinião médica", então torna-se legítimo que o doente "morra com dignidade"..Após ser conhecida a decisão, outras duas famílias com doentes em estado vegetativo já pediram a suspensão do funcionamento dos sistemas de apoio à vida.