Conto de Natal

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O António não disse nada, mas foi isso que despertou as suspeitas da mãe. O pequenito estivera muito calado desde que voltara da escola nessa tarde. Ao jantar ela finalmente perguntou o que se tinha passado. Depois de alguma hesitação, a criança contou:

"Hoje a professora perguntou o que é o Natal. Uns disseram que era a festa do Pai Natal, outros que era o dia das prendas e outros que era a festa da família. Quando eu disse que o Natal é o dia dos anos do Menino Jesus todos se riram, e a professora ficou um bocado zangada. Disse, muito séria, que isso era uma explicação dogmática e subjectiva. Oh pai, o que é isso?"

Os pais ficaram visivelmente atrapalhados e o silêncio dominou o resto do jantar. Mas no final, o pai pegou no António ao colo, levou-o perto do Presépio que estava na sala e perguntou ao pequenino:

"António, vês alguma escola aqui no Presépio?» O António confessou que não via nenhuma.

«Achas que no tempo de Jesus havia escolas?" O rapazinho disse que havia de certeza.

"Tens razão», continuou o pai. "Mas não há nenhuma escola no Presépio. Agora imagina o que aconteceu quando, no dia seguinte ao Natal, este pastorinho pequenino que vês aqui de lado com a ovelhinha ao colo, foi contar na escola aquilo que tinha visto na noite anterior. O que terão dito os colegas e a professora, quando ele contou que viu os Anjos no Céu a cantar e que encontrou o Menino Deus deitado numa manjedoura? Que achas tu que eles fizeram?"

"Devem ter-se rido dele, e não acreditaram."

"Também acho", concordou o pai. "E que achas que o pastorinho pensou nessa altura?"

Depois de meditar um pouco, o pequenino respondeu: "Deve ter ficado muito triste, porque os colegas dele não sabiam que aquilo era mesmo verdade."

"Isso mesmo! Não ficou zangado, não ficou envergonhado, não ficou assustado. Ficou muito triste, porque os amigos não acreditaram, nem queriam saber daquela coisa maravilhosa que ele sabia que tinha visto."

A mãe, que estava ali ao lado, a acompanhar a conversa, interveio:

"Vês, António, tu estás como o pastorinho. Tu sabes que o Natal são os anos do Menino Jesus. É por isso que há prendas, festa e as famílias se reúnem. O Pai Natal é apenas o ajudante do Menino Jesus para essas coisas, mas o que é realmente importante no Natal são os anos do Menino Jesus."

"Que posso eu fazer para os meus colegas e a professora perceberem que isso é mesmo verdade?"

Mais uma vez os pais ficaram embaraçados. Mas a mãe interrompeu o silêncio dizendo:

"Podes perguntar ao Menino Jesus. Ele ainda não chegou ao nosso Presépio, porque só vem na noite de Natal, mas já está ali em cima daquele armário, com Nossa Senhora e São José. Vamos ali rezar-lhe e perguntar o que devemos fazer."

"Mas mãe", discordou o rapaz, "esta coisa importante tem de se perguntar na igreja, onde o Menino Jesus está mesmo, no sacrário, como diz o senhor padre."

Os pais sorriram e a mãe disse: "Está bem. Amanhã saímos mais cedo e, antes de irmos para a escola, passamos pela igreja e tu perguntas isso ao Menino Jesus. Rezas por ti e pelos teus colegas e professora, e perguntas o que deves fazer."

No dia seguinte, ao jantar, o pai quis saber como tudo se tinha passado. A mãe contou que tinham ido à igreja antes de chegarem à escola, e que rezaram para que os meninos e professores aprendessem o que é o Natal. O António manteve-se calado, mas quando a mãe acabou, ele disse: "Amanhã eu quero levar na mochila aquele Menino Jesus de madeira que temos nas palhinhas no armário da sala."

Novo silêncio. A mãe não concordou: "Ó António, não faças isso. Vais sujar, perder ou partir o Menino Jesus. O melhor é Ele ficar aqui e tu falas com Ele, como fazes na igreja. A nossa casa é muito mais calma e segura do que o recreio ou a sala de aula. O melhor é o Menino Jesus ficar aqui."

O pequeno respondeu: "Mãe, eu acho que o Menino Jesus quer ir à minha escola. Vou ter muito cuidado, mas Ele não tem medo de ficar sujo ou partido. Sabes, Ele estava no Céu descansadinho, onde nunca se sujava nem magoava, e quis vir cá abaixo para estar connosco. Aqui Ele ficou sujo, mas não se importou. Na missa disseram que Jesus até disse aos amigos que O iam matar na cruz. Ele sabia isso, mas, mesmo sabendo, quis vir. Se veio assim, também quer ir à minha escola. E lá ninguém lhe faz mal."

Depois de novo silêncio, continuou: "No Céu cheira tão bem. Já pensaste o que é ir daí ao Presépio? Com o estrume do burro e da vaca, ainda devia cheirar pior no Presépio do que na casa de banho da escola. E eu não o levo à casa de banho."

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