A par do consumo, o investimento também deu um forte contributo para a contração histórica do produto interno bruto (PIB) no segundo trimestre do ano, com uma diminuição de 9% da formação bruta de capital fixo (FBCF)..Mas nem todas as componentes as componentes da FBCF sofreram os impactos da pandemia. O investimento em construção não só conseguiu manter-se em terreno positivo como cresceu. "A FBCF em Construção acelerou, passando de uma variação homóloga de 2,5% para 7,5% no 2.º trimestre", refere o Instituto Nacional de Estatística (INE)..E mais do que ter um comportamento em contraciclo com os restantes setores, esta componente parece estar a ter um comportamento melhor do que nos restantes países europeus, "contrastando com o verificado em vários países da União Europeia, onde o setor da construção terá também sido muito afetado pelo impacto negativo da pandemia covid-19", indica o INE..Nas restantes componentes, verifica-se uma contração do investimento em equipamentos de transporte (69,9%), noutras máquinas e equipamentos (-22,4%) e nos produtos de propriedade intelectual (-5,2%)..Obras não pararam.Para Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), o bom desempenho do setor deve-se à manutenção da atividade das empresas mesmo nas semanas em que o país viveu sob estado de emergência. "A maioria das obras em curso, públicas e particulares, manteve-se em execução" e "os números que conhecemos hoje traduzem essa realidade", frisa..Segundo o responsável, o contributo das obras particulares foi também determinante para estes resultados, mas o mesmo não se pode dizer das públicas. Como sublinha, regista-se "um crescimento muito significativo ao nível dos anúncios de concursos de empreitadas de obras públicas", mas "a celebração de novos contratos está praticamente ao mesmo nível do ano passado"..A manutenção do investimento nestes níveis carece de apoios, até porque os próximos meses estão toldados por "um elevado grau de incerteza" dada a impossibilidade de saber como vai evoluir a pandemia e a situação económica do país, diz. Neste contexto, Reis Campos defende que o setor da construção e imobiliário, apontado a nível europeu como decisivo para a reativação da economia e do emprego, deve ser apoiado com medidas de carácter fiscal e contributivo, como novas moratórias, linhas de crédito com condições favoráveis, mas também com a agilização dos processos de licenciamento, uma fiscalidade mais favorável e um programa de vistos gold atrativo à escala europeia..Paulo Ribeiro Pinto e Sónia Santos Pereira são jornalistas do Dinheiro Vivo