Conhecer mais a Cróacia sem gravata

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Os portugueses têm um mês para aprender um pouco mais sobre a Croácia, têm é de visitar até 3 de dezembro o Museu dos Coches para descobrirem a pintura de Vatroslav Kuliš (ver foto) e as fotografias de Marija Braut e Slavka Pavic. Ora, aprender sobre a Croácia é reforçar um pouco mais a pertença à União Europeia, com os seus 28 membros (enquanto o brexit não se concretizar), sendo a Croácia o mais recente membro do clube, pois a adesão ocorreu a 1 de julho de 2013. Engana-se, porém, quem pensar que portugueses e croatas se conhecem há pouco, só depois do fim da Jugoslávia e quando o Adriático, pela beleza natural e arquitetónica, começou a atrair turistas, levados pela TAP e agora também pela companhia croata.

Basta, aliás, visitar a exposição para perceber que esta celebra os 40 anos de amizade entre Lisboa e Zagreb, então capital da Croácia parte da Jugoslávia comunista, uma cidade cuja vida quotidiana as fotos expostas no Museu dos Coches mostram nesses tempos.

Mas recorro a um artigo publicado há uns meses aqui no DN pelo embaixador Ivica Maricic para ir bem mais para trás, para a época medieval, quando os marinheiros da República de Ragusa, a atual Dubrovnik, eram visita habitual dos portos portugueses. O diplomata fluente em português, também arquiteto e responsável pelo magnífico pavilhão da Croácia na Expo"98 (parecia que se caminhava sobre o mar), contava ainda nesse texto de pesquisa histórica como chegou a haver uma numerosa comunidade ragusina em Goa (e lá continua a Igreja de São Brás, padroeiro de Dubrovnik) ou como Amado Lusitano, judeu nascido em Castelo Branco, médico que cuidava das populações de Dubrovnik, Zadar e outras cidades croatas. Não esquecer ainda Juraj Križanic, "ecumenista, erudito, teólogo, musicólogo e lusófilo croata que supervisionava a edição das obras musicais de D. João VI" ou Ignacije Szentmartony, um jesuíta croata que, e volto a citar o embaixador, "foi envolvido na expedição de D. João V para delimitar as fronteiras das colónias sul-americanas entre Portugal e Espanha".

Mais casos de croatas por cá e portugueses por lá há, mas voltemos ao Museu dos Coches e à inauguração da exposição de ontem, onde quem quis pôde descobrir também os vinhos croatas, um Cuvée Benkovac e um Asseria, ambos tintos. Conversei um pouco com a diretora do Museu dos Coches, Silvana Bessone, que tem grandes expectativas com esta estada provisória de pinturas e fotos croatas, e com o próprio Vatroslav Kuliš, pela primeira vez em Lisboa e surpreendido por não haver sol e a luz que tanta fama dá a Lisboa - expliquei-lhe que desta vez ainda bem que chove. Na festa estava também um representante de Zagreb e a vereadora lisboeta da Cultura, Catarina Vaz Pinto, além de diplomatas de países diversos, croatas a viver em Lisboa e gente ligada às artes. Curiosamente, nem todos os homens traziam gravata, incluindo quem escreve esta crónica - mas pensando bem se há receção oferecida por uma embaixada onde esse acessório devia ser obrigatório era nesta - foram os croatas ao serviço de Luís XIV que introduziram em França a gravata, aliás, cravate, aliás croat, conta uma tal de La Grande Histoire de la Cravate. Já para visitar a exposição, não é preciso tanto aprumo, só mesmo interesse.

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