O tiroteio de sábado no Arizona veio avivar o debate sobre a crispação política nos EUA, principalmente nos meios de esquerda. Isto porque Gabrielle Giffords, a congressista democrata que está em estado crítico num hospital de Tucson, no Arizona, tinha o nome no mapa que foi elaborado por Sarah Palin com os 20 políticos a serem penalizados pelo eleitorado nas intercalares de 2 de Novembro - por apoiarem a reforma da saúde de Barack Obama. O Presidente norte-americano pediu aos americanos que guardem hoje um minuto de silêncio. ."Não sei se culpa é a palavra certa para a senhora Palin. Mas ela deveria assumir que errou", declarou, ao Times-Tribune, o ex-congressista Chris Carney, que também figurava no mapa. Ex-candidata a vice-presidente dos EUA em 2008 e apoiante do movimento ultra-conservador Tea Party, Palin já retirou o mapa do seu site e deixou uma "mensagem de condolências para a família de Gabrielle Giffords e todas as vítimas do tiroteio". A sua assistente, Rebecca Mansour, disse ao USA Today que não houve intenção de instigar à violência com o mapa e que tais insinuações são "obscenas"..Além de Sarah Palin, toda a classe política americana levantou a voz contra o ataque de sábado. Quando foi atingida com um disparo na cabeça, Giffords fazia aquilo que era hábito seu: falar com eleitores locais num qualquer canto da rua. Naquele dia, esse canto era o parque de estacionamento de um supermercado, no estado pela qual foi eleita congressista pela terceira vez no dia 2 de Novembro. A acompanhá-la estavam membros do seu staff, residentes locais e apoiantes, como o juiz federal John Roll, que foi uma das seis vítimas mortais. As vigílias de pesar sucedem-se pela congressista democrata que, segundo a equipa médica, foi ontem capaz de comunicar por gestos. A classe política norte-americana, ainda em estado de choque, tenta perceber quais as motivações de Jared Lee Loughner, o autor dos disparos que fizeram mais 14 feridos. .O jovem, de 22 anos, foi detido no local quando fazia uma pausa para recarregar a arma semi-automática que usou no crime. E ontem recusava-se a prestar declarações às autoridades policiais, invocando, para isso, a Quinta Emenda à Constituição dos EUA. Esta diz que um norte-americano tem o direito de permanecer calado. "Ele estava pronto para a guerra. Não ia parar de disparar", contou, à CNN Joe Zamudio, uma das testemunhas do tiroteio. Nas suas páginas do My Space e do Youtube, Loughner deixou mensagens suspeitas de despedida aos amigos e críticas ao governo que, para ele, está a "lavar as mentes pelo controlo da gramática". Criticando a moeda americana, o jovem chegou a referir-se a si como terrorista e a dizer ter um disparo pronto. Expulso do liceu, os colegas descreveram-no como alguém perturbado e um deles disse mesmo que, em 2007, chegou a comentar que achava aquela congressista "pouco inteligente", segundo noticiou a ABC News. .Num primeiro comentário sobre o detido, o xerife do condado de Prima, Clarence Dupnik, disse que ele era uma pessoa instável. Mas depois acrescentou a suspeita de que a congressista era o alvo principal deste ataque. A acção em que participava na altura, O Congresso na Sua Esquina, era do conhecimento público. Giffords já denunciara um ataque ao seu escritório em Março e após o tiroteio foi encontrado um pacote suspeito junto ao mesmo. Dupnik afirmou, segundo o Washington Post, que o seu estado se tornou uma "meca para o preconceito e para a intolerância (...) Esta raiva, ódio e intolerância que temos visto neste país é escandalosa". .A congressista, de 40 anos, pertence à ala centrista dos democratas, defende o aborto, as experiências com células estaminais, o direito ao porte de arma, a luta contra o narcotráfico e o reforço militar na fronteira com o México, país ali mesmo em frente. Isto apesar de ser contra a controversa lei da imigração do governador republicano Jan Brewer, a qual pretende tornar crime ser ilegal. Giffords, fã de motociclismo, casada com o astronauta Mark Kelly, que na Primavera deveria comandar uma missão da nave Endeavour, era favorável à reforma da saúde da Administração Obama.