Como um professor de 36 anos se tornou o herói do Caldas
Pedro Emanuel, avançado de 36 anos, é por estes dias o grande herói nas Caldas da Rainha, após os dois golos que marcou anteontem na vitória (3-2) sobre o Farense, que valeram uma qualificação histórica para as meias-finais da Taça de Portugal.
Como seria de esperar, a festa na cidade foi rija, conta ao DN o autor dos golos decisivos (o primeiro valeu o prolongamento, o segundo a qualificação). "Andámos num autocarro descapotável, agradecendo o apoio das pessoas e depois fomos jantar, já perto da meia-noite. Mas eu estava tão "partido" que só queria sair dali para fora e ir para casa descansar", confessa.
Quando chegou a casa, adormeceu de imediato, tal era o cansaço, mas não pôde descansar muito, pois ontem de manhã bem cedo já estava a trabalhar. "O dia [ontem] foi igual a tantos outros. Trabalhei de manhã, depois fiz uma hora de recuperação física, fui a casa almoçar, à tarde voltei a trabalhar e ao fim do dia treinei com o Caldas", diz Pedro Emanuel, que divide os ataques às balizas contrárias com aulas de AEC (Atividades de Enriquecimento Curricular) a crianças do primeiro ciclo. "Sou professor de Educação Física no primeiro ciclo, mas neste momento não estou colocado e dou aulas em Marrazes", refere.
Os golos ao Farense foram os primeiros da época, depois de ter estado ausente muito tempo devido a uma lesão, precisamente no jogo da primeira eliminatória da Taça de Portugal com o Lourinhanense [a 3 de setembro]. " Só voltei sem limitações há poucas semanas", refere, explicando que o real problema não foi logo detetado. "O médico disse que se tratava de uma luxação, mas a verdade é que eu tinha muitas dores. Ainda fiz três ou quatro jogos, mas não conseguia aguentar e realizei exames, que mostraram uma rutura de ligamentos no pé", conta, lembrando que "a recuperação foi complicada e exigiu muito esforço".
A recompensa veio com os dois golos ao Farense, na noite histórica do Caldas. O maior feito da carreira? "Posso dizer que sim. Acho que é para compensar o que me aconteceu no ano passado, quando podia ter subido à II Liga pelo Fátima, mas o empate na última jornada estragou tudo", diz o avançado, que construiu toda a carreira em clubes da zona centro (S.L. Marinha, Marinhense, Pombal, União de Leiria, Peniche e Fátima).
O facto de nunca ter jogado em campeonatos profissionais é o maior lamento de Pedro Emanuel. "Aquela expressão de que "com trabalho tudo se alcança" é das coisas mais ridículas que já ouvi. Não é verdade e acho que só não cheguei mais alto porque, ao contrário de alguns colegas, não tive um empresário que me promovesse", defende. Por uma vez, esteve muito perto de um clube profissional. "Tive um convite da União de Leiria, quando o treinador era o Manuel Fernandes. Se o clube tivesse ficado na II Liga, eu teria ido para lá, mas como subiram de divisão preferiram contratar outro jogador", revela.
Jonas como modelo
Assumido adepto do Benfica, confessa que Jonas é o jogador em quem se inspira. "Não gosto apenas de marcadores de golos, mas sim de avançados que sabem jogar. Na minha opinião, ele é o melhor futebolista a jogar em Portugal. Eu sou um avançado, como o Jonas, e não um ponta-de-lança, como o Bas Dost, que fica mais parado à espera de que a bola lhe chegue", atira.
A terminar, colocado entre dois cenário hipotéticos - o Caldas descer aos distritais e conquistar a Taça de Portugal, ou conseguir a manutenção no Campeonato de Portugal, mas não chegar ao Estádio Nacional -, o avançado-professor não hesita. "O campeonato é a nossa prioridade e é nessa prova que estamos focados. Não nos vamos distrair com este feito que alcançámos", garante, embora obviamente não feche as portas do Jamor: "Sabemos que o Aves é favorito, mas vamos lutar pela passagem como fizemos até aqui."