Como matar uma novela

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Houve um tempo em que, para quem gosta de novelas, o último episódio era um happening. Muitas das histórias finais já se sabiam, mas ver as derradeiras emoções, os casamentos, os castigos para os vilões, o final feliz para os bonzinhos, era um ritual que a maior parte não dispensava. E é por isso que o último episódio de uma novela regista normalmente valores muito superiores aos habituais. A regra é: pode-se perder um episódio no meio da história, que não se perde nada, mas não se pode perder o último capítulo.

Quem me lê habitualmente sabe que segui nos últimos meses Laços de Sangue. E gostei muito. E é por isso maior a minha desilusão com a forma como a SIC matou a sua novela.

Ao querer esticar até mais não a sua exibição, ao insistir naquele crime irritante (que não é só seu...) de cortar os episódios a meio, de lhes juntar mais dez minutos do episódio anterior, só para, por mero oportunismo de grelha, fazer dourar a pílula, a estação esvaziou por completo o último episódio. Quem percebe alguma coisa do assunto sabe que, na lógica narrativa de uma novela, o último capítulo é o climax, o desvendar de vários mistérios, a concretização de várias promessas e de outras tantas suspeitas. Em Laços de Sangue nada disso aconteceu. Porque o que a SIC exibiu na sexta, no sábado e no domingo fazia tudo parte do último episódio. Só que a estratégia da SIC fez com que o último capítulo apenas tivesse de relevante a morte de Diana. Um episódio completamente desequilibrado, de apenas meia hora, quase sem histórias laterais. Um desrespeito ao trabalho do autor Pedro Lopes, que Aguinaldo Silva, que supervisionou a novela, não aprovaria.

O que deveria ter sido a cereja no topo do bolo foi apenas um balão cheio de nada.

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