O comércio tradicional de Coimbra está outra vez em sobressalto. Tudo por causa da abertura de mais uma grande superfície - o Fórum Coimbra. Os empresários reconhecem que o sector tem limitações e que é preciso alterar estratégias e comportamentos. Adivinham tempos de agonia e de desgraça. Queixam-se da autarquia, do Governo e até da própria associação que os representa, mas não reagem. Aliás, admitem mesmo que, enquanto consumidores, correm para os centros comerciais. .Esta semana, e após a inauguração do maior centro comercial da região centro, na sexta-feira, os comerciantes da Baixa de Coimbra reuniram-se. À semelhança do que aconteceu há um ano com a inauguração do Dolce Vita ou há uma década com o Coimbra Shopping. No entanto, e durante este período, multiplicaram-se as áreas comerciais com dimensões um pouco menores que aqueles dois centros. O comércio tradicional, por seu lado, manteve- -se quase igual e a crise tem-se agravado. . "É necessária a coesão dos comerciantes, pois a situação da Baixa é preocupante e tende a agravar-se", alerta Armindo Gaspar, dirigente da ACIC (Associação Comercial e Industrial de Coimbra), embora se mostre satisfeito com o facto de, na última reunião, terem estado pressentes perto de meia centena de lojistas para debaterem o problema..Contudo, António Almeida, proprietário do Armazém Americano, um dos participantes, ironiza. "Afinal, não há crise no comércio independente. Existem cerca de mil operadores na Baixa e nem dez por cento aqui estão", disse. "Tenho a casa aberta à hora do almoço e ao sábado à tarde há 12 anos e vale a pena", garante ainda. .Mas são raros, muito raros, os operadores que o imitam. "O problema não são os horários", justifica outro empresário, argumentando que as galerias e centros comerciais de pequena e média dimensão também "funcionam 12 e 14 horas consecutivas e estão em crise".. A diferença entre o desenvolvimento das áreas comerciais e a crise do comércio tradicional está nos aspectos que uns e outros podem proporcionar ao consumidor. Por exemplo, refere António Cruz, as lojas da Baixa não oferecem estacionamento automóvel, as grandes superfícies garantem-no gratuitamente..Por outro lado, aquela área da cidade está cada vez menos atractiva, sublinha, acusando a autarquia de laxismo. Carlos Clemente, comerciante e presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu, uma das áreas urbanas que compõem a Baixa de Coimbra, critica o facto de não haver um programa de animação para a zona histórica, embora sobrem "iniciativas desgarradas, frequentemente autênticas palhaçadas". Isto além de haver pedintes, venda ambulante e insegurança, acrescenta, num lamento partilhado por outros empresários..A cobertura do "canal", eixo pedonal (ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz) que liga o Largo da Portagem à Praça 8 de Maio, surge como um projecto capaz de devolver vida e reanimar o comércio da Baixa. Mas também esta ideia não é pacífica entre os lojistas. Há quem a considere um disparate e há quem queira mais ruas cobertas. .Virgílio Baptista constata, por sua vez, que "o comércio independente da Baixa de Coimbra continua ameaçado" e incapaz de se "unir para sobreviver".