Colóquio e exposição na Gulbenkian assinalam seis anos da morte de Tabucchi

A vida e a obra do escritor Antonio Tabucchi vão ser revisitadas pela Fundação Gulbenkian, a partir de 08 de abril, com um colóquio e uma exposição a assinalar seis anos da morte do autor italiano, apaixonado por Portugal.
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Antonio Tabucchi viveu grande parte da sua vida dividido entre Itália e Portugal, Toscana e Lisboa, o que se deve ao poema "A Tabacaria", de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa), que descobriu por acaso num alfarrabista de Paris, e que lhe mudou para sempre a vida.

O encontro com esse poema marcou-o de tal forma que suscitou no ainda jovem Tabucchi o desejo de conhecer a língua e o país do poeta, trazendo-o a Lisboa, numa viagem que o fez apaixonar-se e perceber que não seria única: voltou muitas mais vezes, estudou e lecionou língua e literatura portuguesas, casou com uma mulher portuguesa e acabou por morrer em Lisboa, em março de 2012.

Para assinalar essa data, a Fundação Calouste Gulbenkian organiza dois dias de um intenso debate, a que chamou "Galáxia Tabucchi", mas que "andará à volta de uma só estrela: Antonio Tabucchi".

Nesse âmbito, estão ainda programados um filme, um documentário, leituras musicadas e uma exposição iconográfica e documental, que pode ser vista durante um mês inteiro, anunciou a Gulbenkian.

Começando pelo fim, que é também o início, a exposição "Tabucchi e Portugal" é inaugurada no dia 08 de abril e vai estar patente até 07 de maio, com manuscritos, documentos, fotografias e outros objetos do acervo familiar do autor, bem como excertos de entrevistas suas a Maria João Seixas e António Mega Ferreira.

Com esta mostra, a Gulbenkian pretende "mostrar um lado mais pessoal de Tabucchi e da vida que levou no país que o acolheu como a um dos seus".

Da exposição para a cinematografia, "Se de tudo fica um pouco -- no rasto de António Tabucchi" é o documentário de Diego Perucci, a ser exibido no dia 08 de abril, no Cinema São Jorge, no âmbito da Festa do Cinema Italiano.

Trata-se do primeiro documentário dedicado a Antonio Tabucchi, e inclui entrevistas a amigos, colegas e companheiros de uma vida, que acompanham uma verdadeira viagem através dos lugares que acolheram e hospedaram o escritor, segundo informação disponível do site do festival de cinema.

A partir da rua da Saudade, desenrola-se um percurso que atravessa o tempo, os lugares, a literatura e os sonhos do autor, e que passa por Siena e Vecchiano, a sua terra natal, na região de Pisa, Lisboa, a cidade que conserva o seu arquivo, ou Paris, onde fica o Fundo Tabucchi.

No dia seguinte, a 09 de abril, é exibido, na Sala Polivalente da Coleção Moderna, o filme "Requiem", do realizador suíço Alain Tanner, baseado na obra de Antonio Tabucchi com o mesmo nome.

Nesse mesmo dia, pela manhã, tem início o colóquio "Galáxia Tabucchi", que junta duas dezenas de estudiosos vindos de todo o mundo, para debater vários aspetos da obra do autor italiano.

Entre os conferencistas, contam-se nomes como os de Eduardo Lourenço e Guilherme d'Oliveira Martins, para falarem sobre "Metafísica e História na obra de Tabucchi", ou de Pedro Mexia, António Mega Ferreira e Nuno Júdice, para debaterem "Portugal na obra de Tabucchi".

O encontro termina no dia 10, com leituras de textos de Antonio Tabucchi, feitas por Jorge Silva Melo e Fabrizio Gifuni, ao som da música de Carlos Martins e Carlos Barretto.

Entre as obras do escritor contam-se "O jogo do reverso", "Pequenos Equívocos sem Importância", "Os voláteis do Beato Angélico", "Chamam ao telefone o senhor Pirandello", "Requiem - uma alucinação", "O Anjo Negro", "Sonhos de Sonhos", "A cabeça perdida de Damasceno Monteiro", "Está a fazer-se cada vez mais tarde : romance em forma de cartas", "Tristano morre", "O tempo envelhece depressa", "Viagens e outras viagens".

Entre as adaptações ao cinema da sua obra, destacam-se "O Fio do Horizonte", com realização de Fernando Lopes, "Requiem", de Alain Tanner, "Noturno Indiano", de Alain Corneau, além de "Afirma Pereira", dirigido por Roberto Faenza, e "A Mulher de Porto Pim", por J.A. Salgot.

Ao autor de "Tabacaria", Tabucchi dedicou títulos como "Pessoana mínima", coletânea de textos sobre Fernando Pessoa, e "Os últimos três dias de Fernando Pessoa: um delírio", tendo escrito também sobre autores como Alexandre O'Neill e José Cardoso Pires.

Escreveu "As Tentações", uma monografia, sobre o pintor Hieronymous Bosch e o tríptico "As Tentações de Santo Antão", da coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, e "A caminhada do medo", sobre a pintura de Graça Morais.

Em 2014, dois anos após a morte do escritor, foi publicado o inédito "Para Isabel - Um Mandala".

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