Clonagem à espera de outra ovelha 'Dolly'

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A clonagem precisa de outro impulso como o que representou o nascimento da ovelha «Dolly». Ian Wilmut, que criou o primeiro clone a partir da transferência nuclear de uma célula adulta, afirma que a investigação decorre a um ritmo «lento», e muitas incógnitas são responsáveis por taxas de insucesso que variam entre os 100 e os 96%. O maior problema está, defende o investigador, em conhecer melhor a organização e o funcionamento da informação genética.

Ian Wilmut, que chegou ontem à tarde ao Porto para proferir duas conferências sobre a clonagem, afirma que «não se pode prever como estes avanços acontecem». Também ele foi surpreendido pelo sucesso do nascimento da ovelha «Dolly», acontecimento que marcou a era da clonagem. O futuro pode estar na técnica que o investigador português, Ricardo Almeida Ribas, desenvolve no seu laboratório enquanto aluno de doutoramento, ou em muitas outras investigações que administram tratamentos às células que vão ser colocadas no ovo, no próprio ovócito ou mesmo ao embrião.

Por enquanto, a clonagem «não funciona muito bem» e para provar os benefícios terapêuticos que se advogam serão provavelmente precisos mais 20 anos. «Estas não são pesquisas de curto prazo e primeiro há muito a descobrir e a investigar sobre as células», explica o cientista. Por isso, não é possível esperar pela comprovação dos benefícios para conseguir a aprovação internacional da técnica. Contudo, «há que persuadir os países a desenvolver regulação e controlo desta técnica», defende.

Os futuros desenvolvimentos não deverão, advoga ainda Ian Wilmut, conduzir à clonagem com fins reprodutivos. Apenas a finalidade terapêutica poderá, garante, justificar a utilização desta técnica em humanos. Aliás, neste momento, o seu grupo espera uma aprovação da autoridade nacional britânica em fertilização para iniciar a clonagem de células provenientes de pessoas que herdam a doença dos motoneurónios, as quais, quando afectadas, acabam por deixar de respirar.

A indústria farmacêutica tem mostrado muito interesse, dado o futuro promissor que esta técnica pode ter. Mas, para isso, é preciso patentear e a equipa de Ian Wilmut vendeu recentemente à Geron Corporation a patente do método de clonagem. Um evento que levantou celeuma pelas possíveis limitações à investigação.

Contudo, afirma o investigador, o laboratório conseguiu assim 20 milhões de euros para financiar a sua investigação. E isso é «muito dinheiro».

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