Cinco datas que marcaram a Segunda Guerra Mundial

Faz esta semana setenta anos que as tropas de Hitler atacaram a Polónia, dando início à guerra mais mortífera até hoje testemunhada pela humanidade. Só ao fim de quase seis anos de combates travados em todos os continentes e um rol de mais de cinquenta milhões de mortos, na maioria civis (incluindo cerca de seis milhões de judeus exterminados no Holocausto), as forças do Eixo, compostas pela Alemanha, Japão, Itália e outros países menores, foram completamente derrotadas pelos Aliados.<br />
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1 de Setembro de 1939
Alemanha invade a Polónia

Eram 04h45 da madrugada quando o navio de guerra alemão Schleswig-Holstein abriu fogo contra as guarnições polacas do forte Westerplatte na cidade que então se chamava Danzig, hoje Gdansk. Um tiro que Adolf Hitler esperava dar início a uma curta batalha coroada com a vitória nazi, mas que, na realidade, mergulhou o mundo na Segunda Guerra Mundial.

Hoje sabe-se que a decisão do Führer de invadir a Polónia não passou de uma aposta. Apesar dos avisos dos seus generais, que recordaram ao homem que os alemães colocaram no poder em 1933 que a Wehrmacht, o poderoso exército alemão, ainda não atingira a sua capacidade máxima. Além disso, a economia alemã continuava a produzir a uma velocidade adequada aos tempos de paz.


Nada que fosse capaz de convencer Hitler, para quem um ataque forte e inesperado – Blitzkrieg, a «guerra-relâmpago» – neutralizaria rapidamente o exército polaco. Além disso, o Führer estava convencido de que os primeiros-ministros francês e britânico, Edouard Daladier e Neville Chamberlain, eram demasiado fracos para entrarem em guerra com a Alemanha, preferindo um acordo de paz. Afinal, a França e o Reino Unido tinham vindo a aceitar várias revisões ao Tratado de Versalhes, que pusera fim à Primeira Grande Guerra, aprovando o rearmamento da Alemanha, bem como o Anschluss, a anexação da Áustria, em 1938.


Do lado polaco, o exército esperava conter o avanço nazi até receber apoio dos franceses que, no entanto, viam na invasão da Polónia uma oportunidade para preparar mais homens para a sua defesa enquanto os alemães estavam ocupados a leste.
Apesar do imediato pedido de ajuda polaco, feito logo às 08h00 de 1 de Setembro, só dois dias depois a França e o Reino Unido declararam guerra à Alemanha, quando se convenceram de que Hitler nunca iria aceitar pôr fim à invasão.


Habituados às técnicas militares da Grande Guerra, os comandantes ocidentais não souberam como responder ao rápido avanço dos tanques alemães. A 15 de Setembro, Varsóvia estava cercada e os bombardeamentos que sofria deixavam pouca esperança de salvação. O golpe final nas esperanças polacas foi dado dois dias depois quando as tropas soviéticas, pondo em prática o pacto germano-soviético assinado poucos dias antes, a 23 de Agosto, atravessaram a fronteira leste da Polónia, tomando parte do país.

No dia 27 do mesmo mês, Varsóvia caía nas mãos dos nazis, que conseguiam a primeira vitória militar na sua campanha pelo domínio da Europa. No ano seguinte, a França também é ocupada pelos alemães (aos quais se juntaram a Itália e o Japão, formando o Eixo) e acaba por aceitar a derrota, passando a ser governada pelo marechal Pétain e o seu governo localizado em Vichy. A resistência era comandada de Londres pelo general Charles de Gaulle. Com a França ocupada, os britânicos vêem-se obrigados a continuar sozinhos o seu esforço de guerra até à entrada oficial dos Estados Unidos no conflito.

7 de Dezembro de 1941
Ataque japonês a Pearl Harbor

Quando a primeira vaga de bombas foi lançada pela aviação japonesa sobre a frota dos Estados Unidos estacionada em Pearl Harbor, Robert Bishop encontrava-se no interior do navio de guerra USS Tennessee. Em 2007, nas cerimónias dos 66 anos do ataque no Havai, o antigo marinheiro contou ao site oficial dos veteranos americanos como «o calor era tão intenso que tudo à minha volta ficou em chamas». E quando Bishop e os outros marinheiros conseguiram finalmente sair do navio «conseguimos ver a devastação; o USS Virginia estava encostado a nós. A própria água estava em chamas. E o fumo que saia do USS Arizona era terrível: continuou a arder durante dois dias».

Esta é uma das cada vez mais raras histórias de sobreviventes do maior ataque contra os Estados Unidos até ao 11 de Setembro de 2001 e que levaria o presidente Franklin Roosevelt a entrar na guerra ao lado dos Aliados. Até hoje os historiadores se interrogam como é que os americanos se deixaram surpreender pelo ataque daquela madrugada de 7 de Dezembro. Afinal, há já alguns meses que conseguiam descodificar as comunicações dos japoneses ainda antes de os próprios o fazerem.


Com a União Soviética invadida pelos alemães (o pacto entre Hitler e Estaline foi rompido em Junho de 1941), terá sido a falta de matérias-primas e a necessidade de se expandir para as conseguir que levou o imperador Hirohito a autorizar o ataque a Pearl Harbor. E quando Washington lhe cortou o abastecimento de petróleo, o Japão não teve outra alternativa a não ser atacar.


Em preparação há meses, este ataque decorreu de forma muito rápida. Em apenas duas horas, a aviação japonesa afundou cinco navios de guerra americanos, 16 outros ficaram danificados e 188 aviões foram destruídos. Só a sorte fez que três porta-aviões que costumavam estar ancorados em Pearl Harbor se encontrassem ao largo e escapassem ao ataque. O momento foi levado ao cinema em 2001 por Michael  Bay no muito patriótico filme intitulado precisamente Pearl Harbor.


Ferida no seu orgulho, a América entra na guerra, abrindo a frente de batalha no Pacífico. Mas o objectivo primeiro dos japoneses foi conseguido. A frota americana no Pacífico ficou suficientemente enfraquecida para que, até meados de 1942, as forças do império, confiantes na sua superioridade racial, conquistassem vastos territórios no Sudeste Asiático, da Birmânia à Indonésia.


O que o Japão não previu foi que, em vez de desmoralizar os americanos, o ataque deu a Roosevelt o motivo para entrar na guerra, à frente de um país disposto a vingar-se. Mas caberia ao seu sucessor, Harry Truman, o golpe final contra os japoneses, que poria também fim à guerra no Pacífico, quando o conflito já terminara há quase três meses na Europa.

6 de Junho de 1944
Desembarque aliado na Normandia

Que o desembarque aliado na Normandia estava para breve todos o sabiam naquela Primavera de 1944. Só a previsão de mau tempo para dia 6 de Junho deixou os alemães mais descansados – de tal forma que o marechal Rommel, comandante das defesas da costa francesa, até partiu para a Alemanha na manhã do dia 5 para celebrar os 50 anos da mulher. Depois da tempestade da véspera, os aliados não iriam arriscar os seus homens.

Mas o general americano Dwight Eisenhower teve opinião diferente e decidiu avançar. Foi assim que numa madrugada cinzenta e ventosa quase sete mil barcos americanos e britânicos se aproximaram da costa noroeste de uma França ocupada pelos nazis. Logo depois da meia-noite, os primeiros pára-quedistas já haviam chegado a solo francês para preparar o terreno. Nos navios, além dos militares, seguiam centenas de jornalistas. Só a BBC enviara 48 repórteres para cobrir aquele que sentiam viria a ser o dia que mudaria o curso da guerra.

Entre os jornalistas estava Martha Gellhorn, a americana casada com Ernest Hemingway, que conseguira lugar num navio-hospital que desembarcou em Omaha Beach.

Terminado o primeiro dia do desembarque – um momento que muitos anos depois seria registado no cinema por Steven Spielberg no Resgate do Soldado Ryan, cuja violência da cena do desembarque deixa imaginar como terá sido a realidade – Gellhorn escreveu no seu diário: «Grande velocidade e eficiência no carregamento. Ternura especial em relação aos negros feridos… Casos de queimaduras. Ligaduras encharcadas em sangue. Toda a gente a olhar em silêncio. Uma multidão de prisioneiros alemães a marcharem para as celas dos prisioneiros de guerra…» Palavras que fariam dela um mito do jornalismo, mas acabaram com o seu casamento com Hemingway, que nunca aceitou ser ultrapassado pela mulher.


Este novo episódio da guerra, de efeito devastador para os nazis, surgiu num momento em que a frente leste já estava a correr mal para os alemães depois da pesada derrota na batalha de Estalinegrado, em Fevereiro de 1943. Derrotada pelo rigor do Inverno soviético e pela resistência do Exército Vermelho, a Alemanha de Hitler vira quebrada a sua aura de invencibilidade.


Quanto aos Aliados, apostaram tudo no desembarque na Normandia, encorajados pelo sucesso do desembarque na Sicília, em Julho do mesmo ano. O facto de terem enganado os alemães, que acreditavam que os anglo-americanos possuíam mais divisões prontas para um segundo desembarque, deu vantagem moral aos Aliados. Além disso, a 22 de Junho, o Exército Vermelho lançou uma ofensiva na frente leste, cumprindo a promessa de Estaline feita  na conferência de Teerão a Roosevelt e Churchill. A guerra virava definitivamente a favor dos Aliados.


8 de Maio de 1945
Fim da guerra na Europa

Na madrugada de 2 de Maio de 1945, depois de uma das mais ferozes batalhas registadas até então, as armas calaram-se numa Berlim destruída. Veteranos soviéticos citados pela BBC recordam que o silêncio que se seguiu aos combates era ensurdecedor. Mas só no dia 8 se celebrou formalmente o fim da guerra na Europa, com a assinatura da rendição. Os soviéticos, por seu lado, optaram por esperar mais um dia para festejar.

Com Hitler morto – suicidara-se a 30 de Abril com a sua amante Eva Braun, convencido de que não conseguiria organizar mais mortes e destruição –, chegava ao fim o seu sonho de dominar a Europa.


Com as atrocidades cometidas pelos nazis durante a invasão da URSS bem presentes na memória, foram muitos os soldados soviéticos que quiseram vingar-se na sua marcha até Berlin. Pelo caminho, mataram e violaram, mesmo contra as ordens dos oficiais, que chegaram a executar quem lhes desobedecia. O desespero da população encontrava reflexo no desespero dos líderes. Mais do que a morte de Hitler e Eva Braun horas depois do seu casamento, impressiona o sangue frio de Goebbels. O mestre da propaganda nazi e a sua mulher não hesitaram em dar aos filhos comprimidos para os envenenar, antes de se suicidarem eles próprios.


Mais de meio século depois, o dramatismo destes momentos foi contado por Anthony Beevor. No seu livro A Queda de Berlim, o historiador britânico conta como depois de aceitar a rendição formal do marechal alemão Keitel, o marechal soviético Zhoukov dançou a russkaya enquanto os seus generais davam vivas bem alto. Quando captaram o comunicado a anunciar a vitória dos Aliados na Europa, os soviéticos começaram a celebrar. «As notícias espalhavam-se rapidamente em Berlim. As jovens mulheres-soldados não perderam tempo a lavar as suas roupas, enquanto os soldados do Exército Vermelho continuavam numa caça frenética às bebidas alcoólicas», descreve Beevor.


Mas se a guerra chegava ao fim na Europa, no Pacífico as hostilidades prosseguiam contra o Japão e os Aliados não podiam ainda respirar de alívio.


6 de Agosto de 1945
Bomba sobre Hiroxima

Quando Roosevelt morreu de forma repentina, no dia 12 de Abril de 1945, o seu vice-presidente, Harry Truman, nada sabia acerca da bomba atómica. Mas foi a ele que coube decidir o que fazer com a arma mais poderosa de sempre, mantida até então no segredo dos deuses. Apesar dos esforços dos Aliados para forçar o Japão à rendição, o supostamente moderado primeiro-ministro Susuki  recusou sempre a perda dos territórios conquistados durante a guerra. A teimosia do império levou Truman a optar por uma solução radical.


No início de Agosto estava mau tempo no Japão. Mas a previsão para o dia 5 era de céu pouco nublado. No dia 6, três aviões B-29 levantaram voo para Hiroxima. Às 08h15, a bomba atómica era lançada e, 45 segundos depois, explodia a aproximadamente dois mil pés de altitude sobre Hiroxima. Num segundo, cem mil pessoas perdiam a vida. Uma destruição que se repetiria três dias depois em Nagasáqui, desta vez matando quarenta mil japoneses e deixando radiações cujas consequências se fariam sentir durante décadas.


Apesar deste rudes golpes, o imperador Hirohito demorou uns dias a aceitar que a guerra tinha de acabar, uma resistência que se ficou a dever em grande parte à oposição dos seus jovens estrategos militares. No dia 10, Tóquio enviou telegramas para as capitais dos Aliados a anunciar que o Japão aceitaria render-se se o imperador se mantivesse no poder. Mas só no dia 15 Hirohito usou os microfones da rádio para comunicar ao povo do Japão que a guerra terminara. «A oposição a esta vontade sagrada será traição», afirmou o imperador, numa comunicação que para muitos japoneses foi a primeira oportunidade para ouvirem a voz do seu soberano. A rendição formal só seria, no entanto, assinada a 2 de Setembro, a bordo do USS Missouri.

Começa então a ocupação americana, que dura seis anos e oito meses. Um  período durante o qual os EUA julgam vários prisioneiros de guerra, políticos e militares, impõem uma constituição democrática, mantêm o imperador como soberano, num cargo, no entanto, meramente simbólico, o que não o impedirá de reinar até 1989. Washington proíbe ainda o Japão de ter um verdadeiro exército, mas assegura um aliado estratégico na Ásia Oriental para a Guerra Fria que se avizinha com a União Soviética.

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