Celíacos só podem jantar em seis restaurantes no País

3% da população é intolerante ao glúten. Mas é dificil encontrar menus compatíveis
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"Não sabia que havia uma intolerância alimentar ao glúten. Aqui ao restaurante vêm muitos grupos e às vezes alguém pedia massa sem glúten, dizendo que caso contrário não podia comer nada. Essas situações fizeram interessar-me pela doença." Foi desta forma que o chefe Bruno Silva começou a incluir no restaurante La Trattoria, em Lisboa, uma pequena ementa para celíacos, tornando-se um dos apenas seis restaurantes em Portugal preparados para servirem refeições sem glúten.

A doença afecta 3% da população e não tem cura, Quem sofre desta doença tem uma intolerância alimentar crónica e permanente ao glúten e os sintomas são vários: diarreia, fadiga, queda de cabelo, depressão, cefaleias, proble- mas de pele, unhas quebradiças, alterações de humor, náuseas e dor abdominal, podendo ainda culminar noutras patologias mais graves. O único tratamento para estes doentes é uma dieta rigorosa sem glúten para toda a vida.

A doença não tem tido atenção das autoridades, de tal forma que nem sequer há especialistas para este problema, aponta a presidente da Associação Portuguesa de Celíacos (ver entrevista). Daí que sejam tão poucos os restaurantes sensibilizados para o problema.

Fernando Salgado, proprietário de uma churrascaria em Ermesinde, Churrasco e Companhia, teve conhecimento da doença quando o mal lhe bateu à porta. Foi diagnosticada intolerância ao glúten à sua filha, de 12 anos, e mais tarde ao seu filho, de sete. Já era proprietário de outro restaurante quando soube a notícia, e decidiu abrir um outro preparado para receber pessoas na mesma condição dos filhos. "Devido à dificuldade que tínhamos para fazer uma refeição fora, decidi criar uma maneira de eles poderem ter condições para virem comer aqui", explica.

Já o chefe de cozinha da Trattoria, como não tinha convívio directo com a doença, entrou em contacto com a Associação Portuguesa de Celíacos (APC) para se informar. "A partir daí fomos adquirindo produtos para celíacos. E começaram a aparecer mais pessoas."

Hoje, o restaurante italiano disponibiliza uma pequena ementa para celíacos. "As massas frescas são confeccionadas com farinha sem glúten, temos lasanha e poucas sobremesas: um pudim e um bolinho de chocolate", adianta Bruno Silva.

A falta de restaurantes em Portugal preparados para receberem pessoas com intolerância ao glúten é muito grande.

Dos dados fornecidos pela APC são apenas cerca de seis restaurantes que os celíacos têm à sua disposição: Torta de Noz, em Matosinhos; Restaurante-Bar La Trattoria, em Lisboa; Quinta do Pinheiro, na Nazaré; Moinho Alentejano, em Almada; Churrasco e Companhia, em Ermesinde; e Canto dos Sabores, em Vendas Novas.

"As pessoas não sabem o que é esta doença, e os celíacos sentem-se incomodados porque têm de estar sempre a explicar", lamentou Fernando Salgado.

Também para Bruno Silva, o grande problema é a falta de informação. Contudo, refere o chefe de cozinha, não é fácil ter condições para preparar as refeições para estes doentes, devido ao perigo de contaminação. "O forno de pizza não pode ser usado, pois está sempre contaminado com farinha normal", explica, acrescentando: "É preciso estar tudo separado. Sempre que alguém faz pedido sem glúten vou buscar tachos à parte para nada entrar em contacto. Tenho receio de fazer mal a alguém."

Segundo a presidente da APC, Raquel Madureira, foi feito um estudo pelo Hospital de Braga que constatou que uma em cada 147 pessoas tem intolerância ao glúten.

Mas os números podem ser muito superiores. "À medida que se fazem estudos, o número aumenta. São entre cinco mil e oito mil pessoas, quase 3% da população".

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