Casino sabia que estava a violar a lei

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Na noite da passagem de ano, o Casino Estoril já sabia que a lei do tabaco se aplicava também às salas de jogo. O Sindicato da Hotelaria e Turismo pediu um parecer à Direcção-Geral da Saúde (DGS) sobre o assunto e a resposta da DGS veio a 10 de Dezembro, sublinhando que estes espaços não são excepção. O parecer foi enviado pelo sindicato para a direcção do Casino da Póvoa - que pertence ao mesmo grupo do Casino Estoril, a Estoril Sol -, a 19 de Dezembro. Exactamente 12 dias antes de o presidente da ASAE ser fotografado a fumar nas instalações do Casino Estoril.

Ontem, na sua primeira reunião, o Grupo Técnico Consultivo da lei do tabaco chegou à mesma conclusão: os casinos e salas de jogo também estão abrangidos pelas novas regras, apesar da legislação própria. Ou seja, reafirmou as conclusões do parecer de Dezembro da DGS.

O esclarecimento surgiu na sequência da foto do DN onde está o presidente da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), António Nunes, a fumar às 02.30 do dia 1 de Janeiro, o primeiro dia de aplicação da nova lei que tem como princípio geral a proibição de fumar em locais públicos. O dirigente da entidade que deve fiscalizar a aplicação da legislação justificou, então, ao DN que a lei do tabaco não se aplicava aos casinos e às salas de jogo, tendo sido secundado pelo administrador do Estoril Sol, Assis Ferreira. Contudo, ambas as justificações foram dadas após o parecer da DGS a defender o contrário, facto com que foi confrontado António Nunes. Este responsável respondeu que não tinha um parecer da entidade que acompanha a aplicação da lei nesse sentido.

Contudo, Francisco Figueiredo, do sindicato, garante ter enviado o parecer à direcção do Casino da Póvoa, um dos três explorados pela Estoril Sol (Casino Estoril e Casino de Lisboa). Apesar disso, no dia 22, Assis Ferreira, o administrador do grupo, defendia o contrário. Este responsável sublinhou ter dois pareceres jurídicos a confirmar a sua tese, mas a empresa não quis adiantar nem os autores nem o conteúdo deste.

Depois de uma manhã de reunião na DGS, o grupo técnico consultivo da lei do tabaco veio esclarecer que a lei é mesmo para cumprir sem excepções. À saída da reunião, Assis Ferreira considerou "equilibrada e não fundamentalista" a decisão, mas voltou a defender que António Nunes estava em zona de fumadores.

Não foi essa a situação encontrada pelos jornalistas do DN. Os cinzeiros estiveram sempre nas mesas, não havia dísticos a indicar quais as zonas em que se podia ou não fumar e os funcionários não conseguiram explicar onde estavam essas zonas, apenas disseram que estavam previstas. E não souberam explicar porque essas zonas não existiam, como confirma a Comissão Unitária de Trabalhadores do Casino Estoril. "No dia 31 não havia espaço para fumadores e não fumadores no Salão Preto e Prata, tanto é que ninguém perguntou às pessoas se fumavam ou não quando se fez a distribuição das mesas", sublinharam.

Negócio

"Temos consciência cívica para adoptar medidas antitabagistas, mas não queremos perseguir aqueles que representam o grande universo dos nossos frequentadores", afirmou o presidente da Associação Nacional de Casinos. Como vão estes estabelecimentos cumprir a lei do tabaco? A esta questão, Assis Ferreira responde que os casinos "se reservam o direito de gerir as percentagens de espaço a destinar aos fumadores", encontrando soluções equilibradas para "as zonas mais nevrálgicas". Justificando esta declaração, Assis Ferreira socorreu-se do peso económico do negócio. "Não somos um negócio como outro qualquer, pagamos 62% das receitas em bruto para impostos."

E disse ainda que, para um casino como o de Lisboa, que tem 45 mil metros quadrados, respeitar 30% de área para fumadores não parece ser um problema. Nos primeiros sete dias de aplicação da nova lei "houve quebra de receitas". Contudo, a associação refere que esta situação pode não ser explicada apenas pela lei do tabaco.

Os dirigentes sindicais estão preocupados com a forma como será feita a distribuição das zonas para fumadores, até porque dizem que funcionários dos casinos e salas de jogo são os mais prejudicados pelos tabaco. "A regra deve ser a proibição de fumar e devem ser criadas áreas para fumadores em todos os espaços", defende Francisco Figueiredo.

A aplicação da lei aos casinos dominou o encontro e representou o único esclarecimento dos conselheiros à lei. O director-geral da Saúde, Francisco George, garantiu que não vai haver regulamentos para a lei, apesar das dúvidas que têm surgido.

Uma manhã de discussão resultou "numa quase unanimidade" entre quase três dezenas de entidades representadas, mas em nenhum esclarecimento adicional. Continuará a não haver dispositivos certificados para assegurar a qualidade do ar, nem entidade que faça medições dos poluentes nos espaços públicos. E a DGS mantém que "a certificação da conformidade dos dispositivos de verificação e extracção de ar é da competência dos técnicos e das empresas que os projectam, montam e asseguram a manutenção". Para estas questões "mais técnicas" vai agora ser nomeada uma outra comissão.

Até que haja clarificação sobre a qualidade e eficácia dos dispositivos de ar, "os equipamentos existentes são bons", afirmou o secretário-geral da Associação de Restauração e Similates (ARESP), José Manuel Esteves. Para a ARESP, continua a haver "confusão", mas são as autoridades que devem fazer "o cadastro dos equipamentos e informar se estão qualificados ou não".| com FERNANDA CÂNCIO

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