Com a mesma facilidade com que outrora destruía as defesas adversárias, Paulinho Cascavel tornou-se um construtor. O antigo goleador de Vitória de Guimarães e Sporting converteu-se num empresário do ramo imobiliário, mas não esquece as raízes nem as casas onde deixou saudades: em breve, quer voltar à vida de fazendeiro e passar temporadas mais longas na Cidade-Berço..Paulo Roberto Bacinello voltou à terra que lhe deu nome: é em Cascavel, nos confins do Paraná (estado do Sul do Brasil), que está centrada a sua vida fora dos relvados. "Tive negócios de agropecuária e agora estou ligado ao ramo da construção. Tenho uma construtora, construímos prédios", conta, ao DN, o antigo futebolista, que jogou em Portugal entre 1984 e 1991, sagrando-se por duas vezes melhor marcador do Campeonato Nacional da I Divisão..Na verdade, o mundo da construção civil é só um dos vértices da vida empresarial de Paulinho Cascavel, tão multifacetado nos negócios como era dentro das quatro linhas. "Quando jogava futebol já tinha uma fazenda e fui tentando ter outros negócios. Acabei por vendê-la há dez anos, porque voltei a viver em Portugal de 2007 a 2012, para acompanhar a carreira do meu filho [Guilherme, avançado formado no Vitória de Guimarães, passou por Trofense, Freamunde e Penafiel, entre outros] e achei que administrar uma quinta à distância era complicado. Então, comprei uns terrenos na cidade", descreve. Era a semente do negócio imobiliário, que hoje conta com a ajuda da filha, Vitória, formada em Engenharia Civil..Em 2012, Paulinho Cascavel regressou a casa - ao mesmo tempo que Guilherme decidiu deixar os relvados (após uma experiência na liga cipriota) e dedicar-se aos negócios familiares, que se estendem ao estado vizinho do Mato Grosso do Sul. E sentiu-se como peixe na água como construtor civil, apesar da crise política e económico-financeira que afetou o Brasil nos últimos anos (com réplicas no mercado imobiliário). "Sim, 2014 e 2015 foram anos piores, mas no Paraná não sentimos tanto a crise como a nível nacional. 2016 foi bom e 2017 também está a começar bem", garante o ex-atleta..Uma forte ligação com Guimarães.Ainda assim, os planos de Paulinho Cascavel passam por "diversificar um pouco os negócios, continuando na construção mas investindo mais na agropecuária": ou seja, voltar às origens. "No ano que vem quero voltar a uma fazenda, viver do jeito que fomos criados. Não é um trabalho tão rotineiro, faz-se um pouco de caça, um pouco de pesca. Daqui a dois anos [e meio] faço 60: está na altura de passear mais, descansar, e espero começar a passar dois, três meses seguidos em Portugal", descreve o ex-jogador, que mantém casa em Guimarães..A ligação com a Cidade-Berço nunca se perdeu, mesmo que a Invicta tenha sido a sua porta de entrada em Portugal. Contratado pelo FC Porto em 1984-85, Paulinho Cascavel passou uma época na sombra do bibota Fernando Gomes. No entanto, na temporada seguinte, resgatado para o Vitória de Guimarães, pelo então presidente vimaranense, Pimenta Machado (que há muito o tinha debaixo de olho), logo iniciou uma longa história goleadora, que também o levaria a Alvalade. "No FC Porto fui campeão, mas joguei pouco. Guimarães e Sporting foram os melhores anos da minha carreira profissional, por isso é que estou aí todos os anos, a rever amigos. Tenho uma ligação muito forte, Portugal é como uma segunda pátria para mim", conta o antigo avançado..Do Vitória ficam recordações como aquele empate 2-2 em casa do FC Porto, em janeiro de 1987, em que Paulinho Cascavel fez dois golos. "Toda a cidade foi às Antas naquele dia [os minhotos estavam em 2.º lugar do campeonato e subiam a 1.º em caso de triunfo]. Ainda hoje os vimaranenses me falam disso", descreve o ex-futebolista, habituado a ser "muito acarinhado" quando volta à Cidade-Berço. "Tenho amigos que conheço há 35 anos e vêm apresentar-me os filhos...", descreve, garantindo que também continua a acompanhar o clube, mesmo à distância - "está a fazer uma boa época, na luta pelos lugares que são os dele"..Ao fim de duas épocas a somar golos em Guimarães (em 1986-87 como melhor marcador da I Divisão, com 22 golos), Paulinho Cascavel seguiu para Alvalade. "Havia a possibilidade de ir para o Benfica, mas as direções do Vitória e do Sporting chegaram a acordo e estabeleceu-se uma relação muito boa. Sou muito grato ao Sporting", diz o ex--atleta, que também também voltou a ser o máximo goleador do campeonato (1987-88, 23 golos) com a camisola verde e branca, que envergou durante três temporadas..Agora, contudo, a relação de Paulinho Cascavel com o desporto rei é mais distante. Longe dos grandes centros - Cascavel "fica a quase mil quilómetros de São Paulo e 1500 do Rio de Janeiro" -, o ex-jogador, que chegou a ter uma escola de futebol no cidade, só vai ao estádio "ver um jogo ou outro" da 1.ª divisão do campeonato estadual paranaense e segue o resto "na TV ou na internet". Para ele, o futebol está bem diferente do que era nos anos 1980. "Antes era 70% técnica e 30% força, agora é o contrário. Não há espaço para tecnicistas. Vejo isso em campeonatos como os de Portugal e Espanha e até na seleção brasileira", nota. No fundo, tudo mudou, como Cascavel, o destruidor de defesas que se tornou construtor civil.