Uma criança que estava num centro de acolhimento foi oficialmente adoptada em Barcelona - um processo corriqueiro que só tem valor noticioso porque o rapaz é, desde o Verão, o primeiro filho adoptivo de uma família homoparental em Espanha. Até agora, a adopção só tinha sido concedida a uniões de lésbicas ou a homossexuais solteiros..O anúncio foi feito por Carme Figueras, conselheira da Família de Barcelona, durante a inauguração do I Fórum Internacional da Infância e Família. Segundo a responsável, trata-se de uma criança que também pertence à comunidade catalã, tendo o longo processo de adopção nacional sido concluído com sucesso. Algo apenas possível depois da aprovação pelo parlamento espanhol, a 31 de Março de 2005, da lei de adopção por casais homossexuais - e da legislação sobre o casamento civil gay concluída em Julho do mesmo ano. Desde então, apenas deram entrada 28 processos de adopção por parte de casais homossexuais na Catalunha, 20 dos quais são de homens e oito de mulheres..Segundo Carme Figueras, os números demonstram que, ao contrário do que afirmavam os sectores conservadores da sociedade espanhola, a aprovação do Código da Família não implicou um dilúvio de pedidos de adopção nem trouxe qualquer risco de ruptura social. A maioria dos pedidos de famílias homoparentais são para levar a cabo adopções nacionais. "O mais importante é que a criança seja a beneficiada, que ele ou ela seja amada, cuidada, respeitada e não maltratada", salientou a conselheira da Família de Barcelona..O Grupo de Entidades Familiares da Catalunha lamenta obviamente o precedente, enquanto a Frente de Libertação Gaye a Federação de Associações Gayse Lésbicas se congratulam.. "É um passo histórico", dizem os segundos. "Trata-se de algo que é legal mas não é legítimo, do ponto de vista da própria Constituição e dos princípios fundamentais da pessoa", argumenta Benigno Blanco, do Fórum Espanhol da Família. Quanto ao recém-constituído agregado familiar, não foram divulgados mais pormenores..Desde que a lei foi aprovada, contabilizaram-se 1400 casamentos homossexuais em Espanha (dados de Junho). Os municípios em que se oficializou um maior número de matrimónios foram Madrid (416), Barcelona (250) e Valência (135)..Segundo as associações gays e lésbicas, e porque em algumas comarcas os dados não são informatizados, este número deverá ser o dobro em todo o país. Os pedidos de adopção, a nível nacional, só chegam à meia centena..E em Portugal?.A nível legal, o acesso dos homossexuais às uniões de facto e aos direitos inerentes a esse estatuto foi consagrado em 2001, mas o casamento civil entre gays não é possível em Portugal. .Mais recentemente, em 2004, a alteração do Princípio da Igualdade (artigo 13.º) da Constituição da República passou a incluir a orientação sexual entre as razões pelas quais "ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever" - e Portugal é pioneiro ao incluir este particular no seu texto fundamental..Neste contexto legal e social, a adopção de crianças é vedada a casais do mesmo sexo.