Carmona Rodrigues enfrenta hoje o primeiro teste às condições de governabilidade que assegurou continuar a manter. O presidente leva à reunião de câmara vários dossiês que herdou da vereadora do Urbanismo, Gabriela Seara, constituída arguida no âmbito de investigações da PJ (ver texto página ao lado). A oposição, apesar de se mostrar "colaborante" e "expectante", assegura que será muito difícil "as coisas voltarem à normalidade". Por seu turno, a líder da distrital laranja, Paula Teixeira da Cruz, garantiu ao DN que "estão longe de estarem esgotadas todas as alternativas". E promete surpresas para hoje..O compasso de espera que se vive nos Paços do Concelho é agonizante. "Há uma semana que ouvimos dizer que o vice-presidente Fontão de Carvalho vai ser constituído arguido. É uma situação paralisante", diz ao DN Ruben de Carvalho, vereador do PCP. A oposição mostra vontade de não agravar o clima de instabilidade, mas não esconde que a situação política "é grave" e "pode piorar". "Estamos todos pendurados com a falta de informação que existe sobre esta matéria. Não dispomos de todos os elementos para avaliar o que se está a passar", lamenta o comunista. .Ovolte-face será a constituição, ou não, de mais arguidos no seio da autarquia: "Caso isso se venha a verificar-se temos de considerar tudo outra vez", afiança o autarca. "Podemos chegar a uma situação em que não há outra alternativa senão as eleições intercalares", diz, salvaguardando ainda assim que essa decisão "não será o remédio para a doença, apenas uma solução por dois anos". Isto porque, alerta, "as eleições são só para a câmara, na assembleia municipal de Lisboa mantém-se a maioria absoluta do PSD"..Também no PS os modos de actuação parecem claramente definidos. Por enquanto - não sendo Fontão de Carvalho arguido - a bola está no campo do PSD (ver caixa ao lado). "É ao PSD que compete decidir", disse ao DN Miguel Coelho, líder da concelhia lisboeta do partido, sublinhando, aliás, que esta posição é "unânime" em toda a oposição camarária..Contudo, outro galo cantará caso o vice-presidente da câmara venha a ser constituído arguido. Aí - explica Miguel Coelho - "nós naturalmente entenderemos que a situação só poderá ser clarificada por eleições intercalares". No entender dos socialistas, Fontão não terá, nesse caso, outro remédio senão afastar-se do executivo camarário, como fez Gabriela Seara. E isso significará, para Miguel Coelho, que "caíram os dois pilares em que Carmona Rodrigues se sustenta". .Quanto ao futuro, Coelho reserva-se. "É muito cedo", diz, comentando, por exemplo, cenários sobre coligações de esquerda na capital. Certo é que há já no PS quem se tenha posto na corrida. "Nunca virei as costas a um combate", disse João Soares, ex-presidente da Câmara de Lisboa e vereador na autarquia de Sintra. .José Sá Fernandes, eleito pelo Bloco de Esquerda, é parco em comentários e opta por não falar dos rumores sobre se o vice-presidente vai ou não ser constituído arguido no âmbito do processo Bragaparques. Para o vereador do BE não há qualquer dúvida: "Independentemente da situação, a câmara não tem condições para continuar." E envia um recado ao partido da maioria: "O PSD tem que tomar uma decisão." ."Todos sabemos que a coesão na equipa do PSD não é total. Se a isto acrescentarmos a balbúrdia no Partido Socialista...", ironiza Ruben de Carvalho. Tese contrariada por Paula Teixeira da Cruz, segundo a qual "neste momento há equipa". E sublinha que o seu partido tem "responsabilidade política e ética perante o eleitorado".."Nós sentimos que temos condições para governar, temos um sentido de responsabilidade perante os eleitores e a cidade de Lisboa", disse ontem Carmona Rodrigues à saída de um encontro com empresários. Sobre o facto de ponderar demitir-se caso Fontão de Carvalho venha a ser constituído arguido, o presidente da autarquia lisboeta frisa que "não se afigura nenhum desses cenários e não trabalhamos com base em cenários. Se acontecer, logo se verá". .Entretanto, o DN sabe que Carmona Rodrigues já pediu uma audiência com o procurador-geral da República para pedir que o processo Bragaparques decorra o mais rápido possível. * Com Paula Sá