O palco mediático das eleições autárquicas parece dominado por quatro nomes Avelino Ferreira Torres, Fátima Felgueiras, Isaltino Morais e Valentim Loureiro. Em comum têm a particularidade de se recandidatarem, desta vez em listas independentes, que só o são porque o partido que os apoiou anteriormente lhes retirou a confiança política. As coincidências não terminam aqui: Todos estão a contas com a Justiça..Estas candidaturas são o espelho de uma realidade que atravessa o País. A maioria das listas independentes que se apresenta a sufrágio no próximo dia 9 de Outubro, não o é verdadeiramente. A maioria dos cabeças de lista optou por concorrer fora do aparelho partidário devido a desentendimentos com o partido de sempre. É assim no concelho comunista do Redondo, onde o renovador Alfredo Barroso viu retirado o apoio do partido ao qual proporcionou a vitória durante vários mandatos consecutivos ..No vizinho concelho de Estremoz, Normando Xarepe é o rosto de uma lista de cidadãos sem apoio partidário. Uma decisão tomada depois de ser demitido da concelhia de Estremoz do PSD. Fê-lo em ruptura. Após ter sido escolhido para encabeçar a lista laranja, o partido avançou com outro nome. Xarepe reagiu usando o contra-ataque..Também em Tomar, a lista de Pedro Marques não consegue descolar da conotação socialista . E não é por acaso. O candidato conhece bem os Paços do Concelho da cidade do Nabão. Foi seu inquilino ao longo de oito anos, eleito pelo PS. Rosa Dias é o primeiro da lista "Unidos por Tomar", à Assembleia Municipal. Também ele conhece bem os cantos à casa. Ocupou o lugar de vereador durante década e meia, eleito pela CDU..Em Viana do Castelo, Belmonte, Sousel, Arouca, Nazaré e Mira, entre outros municípios, encontramos cabeças de lista debaixo do epíteto de independentes que mais não são que indivíduos em ruptura com os seus próprios partidos, ainda que deles se tenham desvinculado entretanto. .Valentim Loureiro, por exemplo, seria o candidato natural do PSD ao município de Gondomar, mesmo com o caso "Apito Dourado" a correr nos tribunais. O novo líder, Marques Mendes afastou Valentim, como afastou Isaltino Morais da corrida à Câmara de Oeiras..O presidente da Câmara de Gondomar, ao contrário do ex-ministro do Ambiente, nem sequer se desfiliou do partido. Recentemente, seria o Conselho de Jurisdição Nacional do PSD a decidir pela cessação de actividade partidária do major. A reacção não se fez esperar Valentim Loureiro vai responder e já ameaçou recorrer ao Tribunal Constitucional.."Sempre presente" tem estado Fátima Felgueiras. No concelho que tem o seu nome, a mulher foragida à Justiça no Brasil, durante mais de dois anos, usa agora a capa de independente para voltar a concorrer. Com o PS, que só após a fuga lhe retirou a confiança, garante não ter qualquer contacto e ter entregue o cartão de militante. Curiosamente, a estrutura local do Partido Socialista rejeita o candidato escolhido pela distrital do Porto. Tacitamente, o apoio do PS de Felgueiras vai para a candidata independente. .Em aberto, naturalmente, estão as consequências destas listas independentes para os partidos. Irão as forças da oposição beneficiar com as fracturas provocadas pelos desentendimentos entre partidos e candidatos? Uma questão para ser esclarecida na noite do próximo domingo..Ainda no distrito do Porto, o homem que foi considerado o autarca modelo do CDS/PP deixa Marco de Canavezes e candidata-se ao vizinho concelho de Amarante. Sem apoio partidário assumido, persiste a dúvida em relação à posição do seu partido de sempre - o CDS/PP - sem candidato na cidade do Tâmega. Irão os tradicionais votos do CDS, em Amarante, ir para o ex-presidente do Marco, ou beneficiarão outras siglas partidárias?. Avelino Ferreira Torres está, aparentemente pelo menos, confiante. Tentou conquistar os amarantinos, muito antes do início da campanha eleitoral, por exemplo com viagens de helicóptero e promessas de desenvolvimento. No concelho cujos destinos liderou durante 23 anos a sua gestão foi no mínimo polémica. Um percurso que culminou na perda de mandato, condenado pelo crime de peculato. A sentença, contudo, não transitou em julgado devido ao recurso para uma instância superior. Apesar de outros processos pendentes, a candidatura avança, noutras paragens.