Candidato brasileiro aos Óscares conta história de palhaço viciado

"Bingo", primeiro filme de Daniel Rezende, é baseado em factos verídicos e foi pré-indicado no mesmo dia para melhor filme estrangeiro de Hollywood e para os Goya, em Espanha.
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Bingo - o Rei das Manhãs é a nova esperança do cinema brasileiro de, pela primeira vez na história, conquistar um Óscar de melhor filme estrangeiro. A obra, da autoria do estreante realizador Daniel Rezende, argumento de Luiz Bolognesi e interpetação de Vladimir Brichta, baseia-se na história real de um palhaço famoso nos anos 80 do século passado, secretamente viciado em álcool e cocaína, que mais tarde se tornou pastor evangélico. "Queríamos um filme que expressasse o Brasil, que fosse muito bem realizado e que pudesse ser entendido até no Japão, o filme atendia a estes requisitos", justificou Doc Comparato, membro do júri da Agência Nacional de Cinema que escolheu Bingo.

"O Bingo nasceu do desejo de fazer um filme baseado na cultura pop, que não é muito visitada no nosso cinema, com um personagem forte como este a ideia que nos mobilizou foi fazer um filme denso, emocionante, aprofundando essa figura", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o realizador Daniel Rezende, que enquanto editor já havia sido indicado para o Óscar de melhor montagem pelo filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles.

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Bingo - O Rei das Manhãs conta a história de "Bozo" (por questão de direitos autorais o nome verdadeiro não é usado), um palhaço interpretado por Arlindo Barreto (no filme o personagem chama-se Augusto Mendes), ator que migrou do género "pornochanchada" (comédias eróticas brasileiras muito populares nos anos 70 e 80) para a programação infantil a pedido do filho. O palhaço "Bingo" torna-se famoso mas Mendes, por não se poder identificar por razões contratuais, permanece anónimo. Esse paradoxo gera uma frustração que o leva ao caminho do álcool, da cocaína e do sexo desenfreado, acabando por perder o emprego quando um dia, perante dezenas de crianças, começa a sangrar do nariz em direto. Na sequência, envolve-se com a produtora do programa, muito religiosa, e torna-se pastor evangélico.

Além das mudanças dos nomes de Bozo para Bingo e de Arlindo Barreto para Augusto Mendes, emissoras de televisão como a Globo e o SBT tornam-se Mundial e TVP e Xuxa, a estrela de programas infantis brasileira, é Lulu no filme. "Quando me debrucei sobre o Bozo descobri que tínhamos de ficcionalizar, o filme é inspirado na história dele mas não é a história dele", disse Rezende.

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Bingo bateu filmes como João, o Maestro, de Mauro Lima, Polícia Federal - A Lei É Para Todos, de Marcelo Antunez, ou Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky, entre outros. A escolha não repetiu a controvérsia do ano passado, quando o preferido da crítica Aquarius perdeu para Pequeno Segredo, supostamente por causa do protesto contra o impeachment da então presidente Dilma Rousseff feito pelo realizador Kléber Mendonça e por parte do elenco no festival de Cannes.

A escolha dos cinco nomeados finais para melhor filme estrangeiro será anunciada dia 23 de Janeiro e a entrega das estatuetas será a 4 de Março. Entre os concorrentes estrangeiros de Bingo, o destaque da imprensa especializada vai para o sueco The Square, de Ruben Ostlund, Palma de Ouro em Cannes, o húngaro On Body And Soul, de Ildiko Enyedi, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, o checo Ice Mother, de Bohdan Sláma, o búlgaro Glory, de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, o alemão In The Fade, de Fatih Akin, e o austríaco Happy End, do consagrado Michael Haneke.

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Desde a edição de 1999, com Central do Brasil, de Walter Salles, o país não disputa o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Além dos prémios da academia norte-americana, Bingo foi também eleito, apenas algumas horas antes, para representar o Brasil nos prémios Goya, conhecidos como os Óscares espanhóis.

* em São Paulo

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