Nove milhões de equatorianos vão hoje às urnas para eleger o futuro presidente do país. Mas, com uma história de instabilidade política - sete chefes de Estado em dez anos -, há quem duvide que o candidato eleito consiga governar durante os próximos quatro anos. "Não me parece que vá ser um presidente com força, não terá um grande apoio no Congresso", referiu ao DN o analista político e professor da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), Símon Pachano. .Apresentam-se ao veredicto popular 13 candidatos, mas apenas quatro têm hipóteses de passar à segunda volta, marcada para 26 de Novembro, Será uma surpresa se o favorito, Rafael Correa, conseguir obter a maioria dos votos ou então 40% com uma diferença de dez pontos para o segundo classificado. As últimas sondagens dão 27% das intenções de voto ao candidato "anti-sistema", que promete convocar uma Assembleia Constituinte, tal como o fez o seu amigo pessoal Hugo Chávez assim que chegou à presidência na Venezuela. Por essa razão, Correa não apresentou qualquer candidato às legislativas. .Certo é que Chávez se absteve de apoiar directamente Correa, como fez noutras eleições na América Latina, procurando evitar a repetição do que aconteceu no Peru, com a derrota de Ollanta Humala. Isso não significa, contudo, que estivesse desatento: "Não houve uma evidência da participação de Chávez, mas supõe-se que houve apoio, nomeadamente financeiro, a Correa", disse Pachano, que acredita que o tema irá surgir com mais força na campanha para a eventual segunda volta. .Além da convocação de uma Assembleia Constituinte, o economista formado nos EUA é contra a assinatura de um tratado de livre comércio com Washington. Um acor- do cujo único objectivo "não é converter-nos em cidadãos da região, mas em consumidores da região", afirmou numa entrevista ao El País..No âmbito das relações com EUA, Correa é também contra a renovação do contrato, que termina em 2009, de utilização da base aérea de Manta (Oeste). Esta é utilizada em operações de combate ao narcotráfico na Colômbia mas também, dizem os críticos, em operações contra os movimentos de guerrilha, como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Em relação ao Presidente americano, George W. Bush, Correa disse recentemente que o facto de Chávez o ter apelidado de "diabo" era uma ofensa ao próprio diabo, "que pode ser mau mas não é estúpido".."Filho divino" e "Barbie".Magnata do império da banana, que herdou do pai, Alvaro Noboa concorre pela terceira vez às eleições presidenciais. Apelidado de "filho divino", era frequentemente visto com uma Bíblia na mão, o que lhe valeu algumas críticas por parte da hierarquia da Igreja Católica local. Pró-americano e liberal é, juntamente com a única candidata, Cin-thya Viteri, conhecida por "Barbie equatoriana", o oposto de Correa..Considerado por vezes o "segundo homem de Chávez em Quito", o socialista moderado Leon Roldós - aliás "o simplório" - também é contra a renovação do contrato da base de Manta. Contudo, não descarta a assinatura de um tratado de livre comércio com Washington, caso esse seja o desejo expresso pelos equatorianos em referendo. .Nas sondagens, Noboa surge com quase 20% das intenções de voto, Roldós com perto de 17% e Viteri com 11%. Há ainda 30% de indecisos, algo que é considerado "normal", disse o professor da FLACSO, lembrando que o voto é obrigatório. Quanto às hipóteses de Correa na segunda volta, Pachano acredita que dependem do seu resultado de hoje: "Se a diferença em relação ao segundo classificado for grande, então pode dar-se o efeito de onda, mas se for pequena poderá ser bastante negativo, porque aparecerá como um perdedor." .Tudo dependerá também da capacidade do seu opositor de reunir apoios, sendo contudo certo que "os equatorianos votam por considerações pessoais e não tanto por questões ideológicas"..Além das presidenciais, realizam-se também as eleições legislativas para renovar o parlamento, que destituiu o presidente Lucio Gutiérrez em 2005 e o substituiu pelo seu vice, Alfredo Palacio.