No dia em que a primeira-ministra britânica anunciou que iria formular o pedido de extensão do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, Bruxelas e líderes europeus colocaram pressão em Londres. Tal como o presidente do Parlamento pediu uma mudança na substância, no Continente pede-se um "plano concreto"..Theresa May vai pedir à União Europeia que adie o Brexit por pelo menos três meses depois de o seu plano para realizar uma terceira votação sobre o seu acordo de retirada da UE ter sido arrasado por uma intervenção do presidente do Parlamento. "O que o governo não pode legitimamente fazer é voltar a apresentar à Câmara a mesma proposta - ou substancialmente a mesma proposta - que na semana passada foi rejeitada por 149 votos", declarou na segunda-feira John Bercow..No entanto, a hipótese de os deputados serem chamados a votar o acordo não está totalmente fora dos planos, caso algo mude. "Nesse caso, com toda a probabilidade, a minha resposta é sim (...) Fundamentalmente, uma coisa ser diferente tem de ser, por definição, diferente. Não pode ser diferente no palavreado, mas em substância", concluiu Bercow na intervenção..O ministro do Brexit, Steve Barclay, reconheceu que uma votação nesta semana era menos provável. "Este é um momento de crise para o nosso país." Mas ele indicou que o governo ainda planeava uma terceira votação. Barclay acredita que uma mudança no contexto - a aprovação por parte dos outros líderes europeus do adiamento do Brexit, por exemplo - pode ser suficiente para que o speaker permita que o acordo de retirada regresse à Câmara dos Comuns..A editora de política da BBC, Laura Kuenssberg, citando fontes do governo, disse que na reunião da manhã de terça-feira, May iria pedir uma prorrogação até 30 de junho com a opção de um adiamento até dois anos..O negociador-chefe para o Brexit, Michel Barnier, numa conferência de imprensa cortou cerce essa hipótese, quando questionado por um jornalista. "Disse uma extensão ao mesmo tempo longa e curta. Bem, ou é uma ou é outra, certo?".Barnier disse que uma extensão só faria sentido se aumentasse as hipóteses de o acordo de May ser ratificado pela Câmara dos Comuns ou se "estivesse ligado a algo novo", "teria de haver um novo evento"..O negociador-chefe lançou perguntas que os líderes europeus terão de responder no Conselho Europeu de quinta e sexta-feira: "Qual o propósito e a o resultado da extensão? Como é que podemos assegurar que no final da extensão a situação não está no mesmo impasse? Seja como for, o Conselho Europeu tem de avaliar o que é o melhor interesse para a UE.".É que os custos económicos e políticos de um atraso para a UE têm de ser ponderados face aos potenciais benefícios. A extensão tem de servir um propósito porque o Conselho Europeu e cada Estado membro tem o dever de saber para que serve o adiamento da saída. "Prolongar a incerteza sem um plano claro aumentaria o custo económico para as nossas empresas, mas também provocaria um custo político para a UE", afirmou..Por outro lado, Barnier sinalizou que o quadro da relação futura pode ser "mais ambicioso" caso "uma maioria na Câmara dos Comuns assim o deseje". Este documento não é o acordo de retirada do Reino Unido da UE, que Bruxelas deu por não negociável..O dirigente francês advertiu que "todos devem agora finalizar os preparativos para um cenário de ausência de acordo". "Do lado da UE, estamos preparados", afirmou..Paris exaspera, Berlim acautela.Quase três anos depois de o Reino Unido ter votado para sair da UE, as capitais europeias mostram mais sinais de impaciência e pressionam May para explicar como tenciona resolver a crise antes de poderem concordar com uma prorrogação. Um funcionário do gabinete do presidente Emmanuel Macron admitiu que a França está disposta a vetar qualquer pedido britânico de um Brexit que atrase as coisas sem oferecer uma saída para o atual impasse, ou que pusesse em perigo as instituições da União Europeia. "Sim, é um cenário possível, se as condições para a extensão não forem cumpridas", avançou a Reuters..O ministro dos Negócios Estrangeiros irlandês, Simon Coveney, disse que o Reino Unido tem de apresentar um plano detalhado sobre como fazer passar o acordo de May pelo Parlamento, a fim de obter a aprovação da UE para uma extensão. Mais conciliadora, a chanceler alemã Angela Merkel disse que não quer ver um hard Brexit. "Vou lutar até ao fim do prazo de 29 de março por um Brexit ordenado e isso significa que não há muito tempo, mas que ainda há algum. Neste momento não estou em posição de prever o que vou dizer. Depende da proposta de May e do que vai acontecer no Parlamento.".O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, concordaram, após uma reunião, que devem agora "ver que propostas emergem de Londres" antes da cimeira da UE de quinta-feira e sexta-feira. Se o Reino Unido não chegar a acordo, sairá do mercado único e da união aduaneira da UE de um dia para o outro, voltando às regras da Organização Mundial do Comércio, o que significa o pagamento de tarifas em importações e exportações e enormes dificuldades logísticas..Corbyn em "ambiguidade criativa".O líder da oposição, o eurocético Jeremy Corbyn, reuniu-se pela primeira vez com os líderes das bancadas do SNP (nacionalistas escoceses), Ian Blackford; dos liberais-democratas, Vince Cable; do Plaid Cymru (nacionalistas galeses), Liz Saville Roberts; e com a deputada dos Verdes Caroline Lucas sobre o fim do impasse do Brexit.."Se não houver uma maioria parlamentar para o acordo de May ou para um referendo, Corbyn apelou para os outros partidos se comprometerem de forma construtiva para se encontrar uma maioria parlamentar para uma relação económica próxima com a UE que possa funcionar para todo o país. Os líderes discutiram esforços para assegurar que o acordo de May seja levado a referendo se ela for capaz de forçá-lo no Parlamento com ameaças e subornos falsos", escreveu a equipa de comunicação do Labour..A líder dos galeses em Westminster lamentou a "ambiguidade criativa" do líder trabalhista. É que a reunião, afirma, seria sobre o referendo, mas Corbyn "queria falar sobre a sua visão para o Brexit", numa reunião que terá sido pedida pelos outros partidos em janeiro de 2018..À Sky News, Ian Blackford comentou sobre a hipótese do referendo: "Se não é este o momento, então não sei quando será."