Bolsonaro escolheu evangélico para a justiça e amigo da família para a polícia
O Diário Oficial da União publicou na madrugada desta terça-feira os nomes dos substitutos de Sergio Moro no ministério da justiça e segurança pública e de Maurício Valeixo na direção-geral da polícia federal. Jair Bolsonaro escolheu André Mendonça para o primeiro cargo e Alexandre Ramagem para o segundo.
As vagas ficaram abertas na sexta-feira, quando Moro se demitiu na sequência da exoneração de Valeixo. O ex-ministro alegou que o presidente tenta interferir politicamente na PF - o que Bolsonaro nega - apresentando provas que o Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, já mandou investigar.
Mendonça era o titular da Advocacia-Geral da União (AGU), posto com equivalência ao de ministro. Para o seu lugar vai José Levi do Amaral, que transita de um cargo no ministério da economia.
Funcionário público de carreira, Mendonça integrava a AGU desde 2000 e foi corregedor do órgão no governo Michel Temer. Chegou ao governo Bolsonaro com o apoio da bancada evangélica - ele próprio é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília.
Os caminhos de Moro e Mendonça voltam a cruzar-se depois de Bolsonaro já ter dado a entender ao longo do seu mandato que indicaria o segundo, e não o primeiro, para o STF por querer alguém "terrivelmente evangélico" na suprema corte.
Com esta indicação, Bolsonaro faz um aceno a uma das alas do seu governo que ainda se mantém maioritariamente do seu lado, a religiosa.
Ainda há a possibilidade, entretanto, de o presidente dividir o ministério, que inclui justiça e segurança pública, o que o torna um chamado "superministério". Uma possibilidade que chegou a ser equacionada durante o consulado de Moro e o desagradou.
Antes de Mendonça, o nome do secretário da presidência Jorge Oliveira, ex-assessor de Eduardo Bolsonaro e filho do chefe de gabinete do então deputado Jair Bolsonaro por 20 anos, chegou a ser dado como certo. Nos bastidores, porém, Oliveira, que de tão próximo ao presidente é às vezes apelidado de 05, terá revelado o seu desconforto em assumir a pasta precisamente por causa dessa intimidade.
Ramagem, por sua vez, é um delegado de polícia próximo da família Bolsonaro desde a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente. Antes de assumir a direção-geral da polícia federal, dirigia a Agência de Inteligência do Brasil (Abin).
Foi o vereador Carlos Bolsonaro, amigo íntimo de Ramagem, com quem passou o último reveillon, que o aconselhou primeiro para a Abin e agora para o lugar de Valeixo. Carlos é investigado pela polícia, agora comandada pelo amigo, na qualidade de suspeito de comandar um esquema criminoso de fake news.
Marcelo Freixo, deputado do PSOL, de extrema-esquerda, entrou com ação para impedir a nomeção de Ramagem sob o argumento de que "o objetivo de Bolsonaro ao nomear Ramagem, um amigo íntimo da família, é controlar e transformar a instituição numa polícia política a seu serviço".
O deputado Kim Kataguiri, do DEM, de direita, também critica a intenção de Bolsonaro de "usar o cargo para fins pessoais". "A ação baseia-se na violação do princípio da moralidade", afirmou o ex-aliado do presidente.