Berardo ganhou 50 milhões com contestação a Jardim

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O empresário Joe Berardo foi um dos rostos da oposição mais feroz às propostas de Jardim Gonçalves nas duas semanas que antecederam a assembleia geral do BCP na segunda-feira. Com essa atitude foi também - a par de João Rendeiro - um dos principais motores da especulação em torno da instabilidade no seio do banco. Durante o processo - que se traduziu numa subida de 20% das acções -, o valor da posição que Berardo detém no BCP (2,28%, segundo confirmou o próprio a 11 de Maio) disparou em 49,4 milhões para um total de 295 milhões de euros. A mais recente aceleração dos títulos teve na base mais um contributo deste accionista do banco.

No final da assembleia geral, Berardo afirmou que "estaria no mercado a comprar mais acções do BCP" no dia seguinte. No entanto, o empresário disse ontem ao DN que afinal decidiu não comprar porque "as acções tinham subido". Por outro lado, o empresário referiu estar "contente porque há várias pessoas a investir no BCP". "É dos bancos mais baratos da Europa, com um potencial enorme", acrescentou.

Ontem, as acções voltaram a atingir um máximo desde Abril de 2002 nos 3,65 euros, tendo fechado a subir 2,3% para os 3,58 euros. Os analistas contactados pelo DN explicam esta evolução com a incerteza sobre o futuro do banco no curto prazo, numa altura em que a tensão no seio da sua administração e entre accionistas o torna mais vulnerável a uma ofensiva hostil. Esta incerteza tem sido alimentada pelo próprio Joe Berardo que, a 11 de Maio, comentava ao Diário Económico que se a proposta de Jardim Gonçalves fosse aprovada saia imediatamente do capital do BCP. Nesse dia, as acções iniciaram uma escalada que ainda não parou e que foi sendo alimentada por sinais de oposição a Jardim Gonçalves, não só por parte de Berardo, mas também por João Rendeiro, presidente do Banco Privado Português.

Confrontado com este comportamento de um dos maiores accionistas do BCP, Francisco Garcia dos Santos, presidente da Associação Portuguesa de Corretores, desvalorizou a actuação de Berardo. "Faz parte do jogo do mercado. Trata-se de um especulador tradicional com objectivos específicos de curto prazo. Noutros mercados é habitual, no nosso também já foi. Agora, não é tanto".

Uma posição que contrasta com a de um outro analista do mercado português, que pediu para não ser identificado. "Já existe um 'efeito Berardo' na Bolsa de Lisboa que, em determinados momentos, parece uma estratégia típica de manipulação. O regulador deve estar atento a estes comportamentos".

Fonte oficial da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) não quis comentar os mais recentes comentários de Joe Berardo, sublinhando apenas que a autoridade reguladora tem mecanismos de alerta para identificar movimentos suspeitos das acções.

O artigo 7.º do Código de Valores Mobiliários diz que "deve ser completa, verdadeira, actual, clara, objectiva e lícita a informação respeitante a valores mobiliários (...) que seja susceptível de influenciar as decisões dos investidores". | *com PC

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