Belenenses é sinónimo de dignidade

Publicado a
Atualizado a

Quando em 2018 a direcção de Patrick Morais de Carvalho e os sócios do Belenenses decidiram desvincular o clube da SAD e ir para a sétima divisão ninguém imaginaria que cinco anos depois o histórico clube do Restelo iria estar na Liga 2. Este foi um trajecto épico, corajoso, competente, sofrido, trabalhoso, persistente e, acima de tudo, digno.

Da terceira divisão distrital para a segunda divisão distrital em 2019, da segunda divisão distrital para a primeira divisão distrital em 2020, da primeira divisão distrital para o Campeonato de Portugal em 2021, do Campeonato de Portugal para a Liga 3 em 2022 e da Liga 3 para a Liga 2 em 2023. O Belenenses iguala assim o recorde mundial de cinco subidas consecutivas com outros clubes, do Japão, Alemanha e Suécia. Caso suba na próxima época, a sexta consecutiva, deterá isolado esse recorde mundial.

Esta conquista foi épica, sem dúvida, mas foi a todos os títulos comovente. Basta ter visto como os sócios e os adeptos do clube acompanharam a sua equipa na terceira divisão distrital de Lisboa. A quantidade de pessoas do Belenenses que se deslocava a campos nunca antes pisados por uma equipa que estava habituada aos grandes palcos nacionais e europeus. E a alegria com que esta massa adepta ia para esses encontros do último escalão do futebol português.

Não tenhamos memória curta. Fora do Belenenses todos, e mesmo alguns dentro do Belenenses, achavam que o clube dificilmente regressaria às competições profissionais em muitos e muitos anos. Tanto que boa parte da comunicação social até há poucos meses chamava erradamente de Belenenses SAD à B-SAD. Este último conjunto de jogadores, sem estádio e quase sem adeptos, era considerado uma espécie de "novo Belenenses". Nunca o foi. Nem será.

O Belenenses, o único e verdadeiro, foi vencendo uma a uma todas as batalhas judiciais, ao mesmo tempo que ia subindo ano após ano de divisão, deixando cada vez mais para trás a injustiça que lhe foi feita através de regras que beneficiam as SAD em detrimento dos clubes. Que beneficiam os detentores do dinheiro em vez dos detentores do amor ao seu clube e ao seu emblema. Mas cada subida de escalão foi também, por parte dos belenenses, uma afirmação de que estavam correctos, uma afirmação de que tinham tomado a decisão certa.

O presidente Patrick Morais de Carvalho, que está há nove anos à frente dos destinos do Belenenses, tem repetido várias vezes que o clube tem percorrido "o caminho das pedras". E tem toda a razão. Mas é um caminho que dá uma riqueza e um ensinamento que nenhum outro clube tem. E esse é um bom legado, construído com muito trabalho e muita seriedade, que não pode ser agora desbaratado. O Belenenses vai a eleições no próximo mês e precisa de manter a estabilidade.

Seria de toda a justiça que o líder que - em harmonia com os sócios -, se desvinculou da SAD e que trouxe o Belenenses da sétima divisão para a segunda, levasse o clube até à I Liga no próximo mandato. Patrick Morais de Carvalho já carimbou o seu lugar na História desta instituição centenária, independentemente do que se passe a partir de agora. Isso é uma certeza. Mas seria de toda a justiça ser ele o líder que levaria o Belenenses de volta ao patamar que lhe pertence.

Não sei se há muitos clubes em Portugal em que os sócios e os adeptos tenham tanto orgulho no seu presidente como acontece no Belenenses. Foi corajoso, sério, competente e determinado. Hoje o clube tem mais assistências no Estádio do Restelo do que tinha nos últimos anos em que esteve na I Liga. E leva mais adeptos azuis aos jogos fora do que antes. O clube do emblema da Cruz de Cristo é hoje respeitado, admirado e recebe grande simpatia até de adeptos de clubes adversários. Muito pelo tal "caminho das pedras" honroso que percorreu. Seria muito positivo, e justo, que fosse Patrick Morais de Carvalho a retirar a última pedra do caminho do Belenenses.

As caminhadas de sucesso em instituições colectivas não pertencem, claro, a uma só pessoa. Os restantes elementos das direcções lideradas pelo actual presidente, os incansáveis funcionários do clube, as equipas técnicas desde 2018, os jogadores... todos contribuíram para a conquista deste fim-de-semana. E é bom não esquecer os heróis que estiveram a lutar em campo nas divisões distritais e no Campeonato de Portugal, muitos deles "fabricados" no clube e que sentem o Belenenses como poucos. Basta ver alguns vídeos do YouTube e recordar como se entregaram e honraram o emblema.

E, claro, há que dar os parabéns à equipa técnica e aos jogadores que participaram pelo clube nesta Liga 3. Não foi uma época linear, tal como não tinha sido a anterior, mas mesmo na fase em que os resultados não foram positivos e os adeptos do Belém ficaram desconfiados sobre o sucesso da equipa, treinadores e jogadores nunca baixaram os braços e acreditaram sempre que poderiam dar a volta aos acontecimentos.

Recordo apenas aquele que parece ter sido o momento decisivo, quando o jogador Gonçalo Maria, um dos melhores do plantel, é injustamente expulso no jogo com o Sporting B em Alcochete, e a equipa une-se e com garra acaba por vencer a partida. A partir desse momento os anteriores maus resultados ficam para trás e o Belenenses recupera e escala até ao quarto lugar que lhe daria acesso à fase de subida.

O resto da história já se sabe: nos seis jogos decisivos o Belenenses ganha três e empata dois, fica em primeiro do seu grupo e sobe à Liga 2.

Perante a sua rica História no futebol - o clube que é um dos cinco que já foi campeão em Portugal, que foi a casa de míticos jogadores como Pepe e Matateu - e que nos últimos cinco anos soube descer ao Inferno para estar hoje perto do Céu, podemos afirmar sem exageros que o Belenenses é sinónimo de dignidade.

Presidente do movimento Partido Democrata Europeu e sócio d"Os Belenenses
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt