O governador do Banco de Portugal (BdP) afirmou esta segunda-feira, no Parlamento, que "não tinha poderes" para "retirar a idoneidade a Ricardo Salgado". "Se pudesse, tirava-lhe a idoneidade", lamentou Carlos Costa na primeira audição realizada pela comissão de inquérito à gestão do BES/GES..Na justificação, em resposta ao deputado Pedro Nuno Santos (PS), o responsável pela supervisão bancária referiu a "dificuldade" de interpretação da legislação, sublinhando que o BdP chegou a propor que a lei, ao invés de se basear em "sanções", assentasse na "prevenção". Dessa forma, observou Carlos Costa, teria sido possível retirar a idoneidade ao antigo presidente executivo do BES..Carlos Costa frisou ainda que "o poder do BdP está aquém daquilo que gostaria" e que "o dever só exequível se for acompanhado de poder"..Valor da venda do Novo Banco pode ser convertido em crédito à banca.Serão os bancos a suportar a eventual perda de valor, caso o Novo Banco não seja vendido pelos 4,9 mil milhões de euros que o fundo de resolução injetou aquando a sua criação a 3 de agosto. Esse diferencial entre o valor de venda e o montante injetado pode vir a converter-se num crédito do Estado sobre a banca, cujo reembolso poderá acontecer em vários anos, revelou Carlos Costa.."Se for um montante que complagie com as contribuições anuais" poderão manter-se e ser abatidas, explicou o Governador. Em todo o caso, Carlos Costa adiantou que ainda não existe uma decisão tomada sobre esta matéria..Supervisor olhava para idoneidade de Salgado desde setembro de 2013. O BdP olhava desde setembro de 2013 para a idoneidade do ex-líder do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado, revela uma nota do supervisor. . "Todo o processo de investigação de indícios suscetíveis de ter impacto na idoneidade dos respetivos administradores [do BES], iniciado em setembro de 2013, foi rodeado da devida precaução e ponderação", diz a nota técnica, enviada esta manhã à comissão parlamentar de inquérito sobre o caso BES/GES.. O texto, a que a agência Lusa teve acesso, foi entregue ao mesmo tempo que o governador do BdP, Carlos Costa, é ouvido na comissão. Na nota técnica sobre a "idoneidade dos membros dos órgãos sociais das sociedades supervisionadas", o banco central lembra que "potenciais fragilidades das decisões do BdP [no BES] poderiam não apenas afetar a estabilidade do sistema financeiro", mas também "vir a ser impugnadas judicialmente, levando a eventual responsabilização patrimonial".