BCE sobe taxas de juro em 0,25%. Há pessimismo sobre a inflação

Novo aumento de 0,25 pontos percentuais (p.p.) traduz-se num abrandamento no ritmo de aperto monetário, já que as últimas três mexidas no custo do dinheiro agravaram as taxas de juro da zona euro em 0,5 p.p..
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As taxas de juro diretoras da zona euro voltaram a subir, com a taxa central de refinanciamento a aumentar de 3,5% para 3,75%, anunciou o Banco Central Europeu (BCE), esta quinta-feira.

Este novo aumento de 0,25 pontos percentuais (p.p.) traduz-se num abrandamento no ritmo de aperto monetário, já que as últimas três mexidas no custo do dinheiro agravaram as taxas de juro da zona euro em 0,5 p.p..

Assim, a taxa de juro aplicável às operações principais de refinanciamento (os fundos que os bancos comerciais do euro levantam no BCE) sobe para os referidos 3,75%.

A taxa de juro de facilidade permanente de cedência de liquidez sobe para 4%.

E a taxa de facilidade permanente de depósito, que é atualmente o preço mais relevante para os bancos (é o instrumento mais usado) aumenta para 3,25%, "com efeitos a partir de 10 de maio de 2023".

No entanto, além desta subida mais moderada, que já era largamente antecipada pelos analistas dos mercados financeiros e monetários, há uma novidade que deve contribuir para aumentar o custo da dívida pública.

Em comunicado, o BCE diz que prevê terminar já em julho, e de forma definitiva, o grande programa de expansão monetária (compras de dívida pública sobretudo, mas privada também) que lançou para combater de forma mais musculada a crise que ainda pairava sobre a zona euro, no final de 2014.

A descontinuação da chamada fase de reinvestimento do gigante programa APP ainda estava em aberto. Mas agora o BCE é mais claro. À medida que as obrigações forem vencendo elas voltam ao mercado aberto, já não haverá "reinvestimento", que era uma forma de preservar essa divida no balanço do BCE, o que limitava a desvalorização dos referidos ativos.

"As taxas de juro diretoras do BCE continuam a ser o principal instrumento para definir a orientação da política monetária"

Donde, "paralelamente, o conselho do BCE continuará a reduzir a carteira do programa de compra de ativos (APP) do Eurossistema a um ritmo medido e previsível" e "em consonância com estes princípios, espera descontinuar os reinvestimentos ao abrigo do APP a partir de julho de 2023".

Como referido, vai começar a desfazer-se das obrigações do Tesouro que conserva no balanço por via do "reinvestimento", devendo os referidos títulos voltar ao mercado aberto, o que pode pressionar em alta as taxas de juro da dívida pública.

Seja como for, este processo de extinção do APP "deve durar 15 anos", disse a presidente do BCE, Christine Lagarde, em conferência de imprensa, já que estamos a lidar com títulos de maturidades longas, ou seja, vão vencendo gradualmente ao longo de muito tempo.

Mas as taxas de juro soberanas continuam a subir. Só para se ter uma ideia, há um ano, em abril de 2022, a taxa de juro média da dívida soberana portuguesa a dez anos estava em 1,76%, mas no mês passado era quase o dobro (3,2%), indica o Banco de Portugal (BdP).

Para países muito endividados, como Portugal, é um problema e pode aumentar a pressão nas contas públicas. O rácio da dívida pública portuguesa parou de descer e fixou-se nos 114% do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre, indicou esta semana o BdP.

Na última reunião, em meados de março, o BCE dizia que "a diminuição [do investimento nesses ativos] ascenderá, em média, a 15 mil milhões de euros por mês até ao final de junho de 2023 e o seu ritmo subsequente será determinado com o tempo".

Seja como for, nas taxas de juro, o aperto vai continuar e, eventualmente, durante muito tempo, anos talvez. O BCE sinalizou que está bastante descontente e desagradado com a inflação persistentemente alta e com as perspetivas futuras da evolução dos preços.

Em comunicado, o BCE avisa que "as perspetivas de inflação continuam a ser demasiado elevadas e durante demasiado tempo".

"Face às atuais pressões inflacionistas elevadas, o Conselho do BCE decidiu hoje [quinta-feira, 4 de maio] aumentar as suas três taxas de juro diretoras em 25 pontos base [0,25 pontos percentuais]."

"De um modo geral, a informação recebida corrobora a avaliação das perspetivas de inflação a médio prazo que o conselho do BCE formou na sua reunião anterior", ou seja, "a inflação total registou uma descida nos últimos meses, mas as pressões subjacentes sobre os preços permanecem fortes".

O mesmo que dizer que a inflação sem contar com energia e alimentos (subjacente) não desarma, o que significa que a subida excessiva de preços já se enraizou em várias partes da economia e que assim é mais difícil de combater.

"Simultaneamente, os anteriores aumentos das taxas estão a ser transmitidos de forma vigorosa às condições monetárias e de financiamento da área do euro, embora os desfasamentos e a força da transmissão à economia real permaneçam incertos", observa a autoridade monetária presidida por Christine Lagarde.

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