Banido há 27 anos, o filho do rei regressou de surpresa à Tailândia

Com a monarquia em crise, visita de Vacharaesorn Vivacharawongse é vista por alguns como os primeiros passos para poder reaproximar-se do pai e vir a tornar-se no seu sucessor.
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Vacharaesorn Vivacharawongse era adolescente quando foi banido da Tailândia, junto com os três irmãos e a irmã, depois de a mãe ser acusada de adultério e se divorciar do pai - o então príncipe herdeiro e atual rei Maha Vajiralongkorn. As crianças estavam então a estudar no Reino Unido, mas mudaram-se para os EUA. Hoje, aos 42 anos, é advogado em Nova Iorque. Mas esta semana, de surpresa, 27 anos depois de partir, Vacharaesorn regressou pela primeira vez a Banguecoque, desencadeando rumores de uma eventual reaproximação com o pai tendo em vista o futuro da monarquia.

"Estive afastado durante muito tempo, 27 anos. É um sonho ter regressado. Quando olhei pela janela do avião antes de aterrar, fiquei encantado", disse Vacharaesorn aos jornalistas. "Apesar de ter estado no estrangeiro durante muito tempo, nunca esqueci que sou tailandês. Nunca esqueci o quão importante é a nossa cultura", acrescentou. O seu regresso a casa foi no domingo, tendo na segunda-feira aproveitado para fazer turismo - publicou uma fotografia num tuk-tuk nas redes sociais - mas na terça-feira participou num evento numa creche para famílias com problemas económicos que é patrocinada pela família real.

Não houve qualquer reação da parte do palácio à presença de Vacharaesorn, que oficialmente não tem qualquer título. Aos 42 anos, é o segundo de quatro filhos do segundo casamento do rei Vajiralongkorn com a antiga atriz Sujarinee Vivacharawongse (1994-1997) - o casal, que começou a relação quando ele ainda era casado com a primeira mulher (1977-1991), teve também uma filha. Esta acabaria por regressar ao seio da família real, recebendo o título de princesa.

Nos EUA, Vacharaesorn é o mais ativo dos quatro irmãos que foram deserdados pelo pai, sendo presença assídua nos eventos da comunidade tailandesa no país. Daí que haja rumores de que este regresso à Tailândia - não sendo claro por quanto tempo - é um primeiro passo para que possa um dia vir a assumir um papel oficial. Em especial devido à crise na monarquia.

O rei Vajiralongkorn, ou Rama X, de 71 anos, subiu ao trono em 2016, após a morte do pai. Dias antes da coroação em 2019 casou com a antiga guarda-costas, Suthida Tidjai, naquele que era o seu quarto casamento. Tem um total de sete filhos, mas nunca nomeou um herdeiro. Todos os olhos estavam virados para a sua filha mais velha, a princesa Bajrakitiyabha, de 44 anos, fruto do primeiro casamento do monarca com a prima Soamsawali Kitiyakara. Mas ela está em coma desde dezembro, devido a problemas de coração.

O filho mais novo, de 18 anos, é fruto do terceiro casamento, com a plebeia Srirasmi Suwadee (2001-2014). Como único filho do sexo masculino reconhecido pelo rei é visto como herdeiro aparente - em especial depois de a meia-irmã ter ficado doente. Mas, segundo os rumores, terá problemas de desenvolvimento, o que deixa o futuro da família real ainda mais em risco.

Em agosto de 2020, milhares de jovens saíram às ruas para defender a reforma da monarquia, desde a redução do orçamento real - em especial devido às controvérsias a envolver as amantes de Rama X ou as luxuosas festas que dava para os seus cães - à revisão das leis de lesa majestade. Estas são das mais restritivas do planeta, proibindo qualquer "difamação, insulto ou ameaça" ao monarca e à família, sob pena de entre 3 a 15 anos de prisão.

O movimento de protesto foi perdendo força à medida que os seus líderes eram detidos, mas algumas das suas reivindicações entraram no discurso político. Nas últimas eleições legislativas, a vitória coube aos progressistas do Partido Avançar de Pita Limjaroenrat - que defendem precisamente a alteração às leis de lesa majestade.

Mas o primeiro-ministro é eleito pelos deputados e senadores, e aqueles aliados aos militares e ao atual chefe de governo, o general Prayuth Chan-ocha (líder do golpe de 2014, que foi eleito em 2019), travaram a eleição de Limjaroenrat. O país continua num impasse após duas tentativas frustradas de o eleger, apesar de uma coligação de oito partidos garantir os votos de 312 dos 500 deputados. O problema é no Senado, nomeado pelo governo militar anterior.

Esta semana, o populista Partido Pheu Thai (ligado ao ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra e segundo nas eleições) anunciou uma aliança com os conservadores do Partido Bhumjaithai. Uma das condições da aliança é que o Pheu Thai, que antes apoiava Limjaroenrat, deixe cair a promessa de rever as leis de lesa majestade. Os dois partidos têm 212 deputados, tendo dito que vão procurar mais apoios para tentar desbloquear a situação política. Ainda não há data para a próxima votação.

susana.f.salvador@dn.pt

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