Portugal tem mais a perder do que a ganhar se Scolari colocar Cristiano Ronaldo (caso recupere da lesão sofrida no treino de ontem) na posição de avançado, de forma a poder encaixar Simão no onze titular. Esta é pelo menos a opinião dos antigos pontas-de-lança Fernando Gomes e Rui Águas, para quem o cenário ideal era Portugal jogar com 12, para assim não desperdiçar o talento de nenhum jogador nem alterar a dinâmica da equipa. ."Há muito tempo que Portugal joga com um ponta-de-lança fixo. Ao passar Ronaldo de extremo para avançado a equipa perde na rotina, nos automatismos, perde um jogador muito perigoso a jogar de trás para a frente, perde velocidade e deixa de contar com o seu remate espontâneo e colocado de fora da área", comenta Fernando Gomes, bi--Bota de Ouro na década de 80 ao serviço do FC Porto.."Neste momento Portugal tem dois outros médias alas, Quaresma e Simão, numa excelente fase de forma, mas a verdade é que Ronaldo é o número um nesta posição. Já a posição de ponta-de-lança carece de uma adaptação muito cuidada que ele não tem. Há características que não domina, como jogar de costas para a baliza. Em determinadas situações, como recurso ao longo do jogo, Ronaldo pode actuar a avançado, mas não desde o início, eu não o faria", diz Rui Águas, antigo goleador do Benfica, que recorda a má experiência de Portugal quando tentou jogar sem avançados de raiz. "Sacrificou-se durante muito tempo os pontas-de-lança para encaixar na equipa os médios e a selecção pagou por isso.".A elevada contabilidade dos prejuízos contrasta com os ganhos que a selecção pode tirar com Ronaldo a actuar no lugar que tem pertencido a Nuno Gomes depois do adeus de Pauleta. ."Ronaldo tem mostrado que sabe jogar de cabeça e tem feito golos assim. É imprevisível e consegue fugir às marcações dos defesas. E actuar na frente é algo que ele não iria estranhar, mas não é ali que tira o melhor proveito do seu futebol", salienta Fernando Gomes, que até coloca a hipótese de, dentro de algum tempo, o extremo do Manchester United se tornar num verdadeiro ponta-de- -lança. "Mas para já é prematuro"..O que Fernando Gomes e Rui Águas não questionam é o acentuado crescimento de Ronaldo e a facilidade que tem demonstrado em chegar ao golo. Aliás, perante a eficácia concretizadora revelada no último ano, o extremo (soma 17 golos) assume-se mesmo como um sério candidato a destronar Pedro Pauleta da lista dos melhores de sempre da selecção nacional. No encontro com a Bélgica passou Jordão (15), está muito próximo da marca de Nené (22) e faltam-lhe dez golos para igualar Nuno Gomes..Cristiano Ronaldo é também o jogador, entre os convocados de Scolari, com melhor índice de finalização após o Campeonato do Mundo de 2006. Dos 16 golos que Portugal obteve nos sete jogos realizados, o extremo marcou cinco, mais dois do que Simão, Nuno Gomes e Ricardo Carvalho.