As autarquias cobram o que querem pela água, existindo grandes diferenças de preço mesmo entre concelhos vizinhos. E isto apesar de os custos para as câmaras serem idênticos. .Na Área Metropolitana de Lisboa (AML), as maiores discrepâncias acontecem nos concelhos de Loures, Odivelas, Amadora, Oeiras e Mafra, que praticam valores entre 30% e 60% acima da média. Uma das razões é que muitas autarquias usam os 'lucros' com a água para financiar outros serviços, como o tratamento de resíduos, que dá prejuízo. .A zona norte do Parque das Nações é onde a água é mais cara. Aqui, o preço chega a atingir 70% acima da média da AML. Além da água, a quota de disponibilidade (aluguer do contador) no Parque das Nações é também a mais cara da região (9,11 euros), atingindo um valor superior ao triplo do custo médio dos 18 concelhos (2,69 euros). Como o território está dividido por dois concelhos, no Parque das Nações os consumidores de Lisboa são abastecidos pela EPAL, recebendo uma factura que se insere no preço médio da água da AML, enquanto os consumidores de Loures (norte) são servidos pela Parque Expo e o valor, se incluída a quota de disponibilidade, 'dispara' para quase o dobro.. Loures, Odivelas e o Parque das Nações formam a trilogia mais inflacionária do preço da água. Odivelas é caso especial, já que o novel município é abastecido pelos serviços municipalizados de Loures. ."Os consumidores recebem a factura de Loures", confirma Manuel Varges, presidente da Câmara. "Quando eu ainda era vereador, em 1995, a Junta Metropolitana fez um estudo onde se concluía que Loures já tinha a água mais cara.".Neste dois concelhos a norte, os consumidores pagam um valor de 40% a 70% superior à média. "É penoso para o cidadão e para as empresas", reconhece o autarca, assinalando que no negócio da água, composto por taxas de saneamento e de resíduos, o abastecimento é a única componente que dá lucro. "Os resíduos dão, claramente, prejuízo", acentua. .As soluções para contrariar a curva altista do preço parecem longe, já que o modelo de distribuição não está escolhido. "Encomendámos um estudo para perceber qual será a melhor solução. Talvez um modelo de empresarialização com Loures, para ganhar economias de escala", assinala Manuel Varges, alertando para o "esforço de efi- ciência" que as câmaras terão de fazer, mas sem que isso conduza a mais problemas de gestão". .A água, diz Luís Pinheiro de Almeida, da Parque Expo, só trouxe prejuízos à empresa, qu desde 1999 tenta entregar o abastecimento da zona norte do Parque das Nações a Loures. "Se a água é cara, a culpa não é nossa, porque nos limitamos a seguir o tarifário de Loures", diz. Duas nuances marcam a diferença na Expo a quota de disponibilidade (o triplo da de Loures) e um terceiro escalão (depois dos 16 m3) a preço elevado, quando em Loures começa aos 21 m3. .Carlos Martins, administrador dos serviços municipalizados de Loures, entende haver pontos de distorção que, na sua óptica, contribuem para o elevado preço da água na margem norte do Tejo, onde a banda de flutuação do preço é reduzida.."Quase todos os municípios compram água em 'alta' à EPAL, que a vende a um preço superior ao que aplica depois na distribuição 'em baixa' na cidade de Lisboa", onde o preço é muito inferior. .Cascais apresenta tarifas enquadradas na média da AML, o que, para o dirigente de Loures, só é possível pela natureza da concessão. "Eles aceitaram baixar os preços nos primeiros anos, aumentando gradualmente as tarifas nos 30 anos de concessão." Por outro lado, em sua opinião, "a taxa de disponibilidade deveria ser incluída na média", já que há municípios que preferem minimizar o custo variável (a água consumida), enquanto oneram o custo fixo (o contador). Idêntica opinião tem Nuno Vitorino, administrador dos serviços municipalizados de Almada. Em Loures, mesmo com a taxa de disponibilidade incluída, a água é mais cara de 35% a 59%. Já em Almada, onde o consumo de 10 m3 é 20% mais caro do que a média da AML, se for incluída a taxa de disponibilidade, o custo da água está na média. Para Nuno Vitorino é uma questão de justiça incluir o valor fixo no preço final. "O consumidor paga sempre essa taxa, mesmo sem consumo." .Almada tem anexado ao abastecimento da água uma política social cuja génese é interessante. Consumidores com rendimentos per capita inferiores a metade do salário mínimo pagam 50% da factura da água. Mas num concelho com 40 mil famílias, só 603 beneficiam desta política. Nuno Vitorino diz que Almada se rege por princípios de sustentabilidade ecológica e igualdade social e afirma que "até 15 m3 por mês a autarquia financia a água aos munícipes"..A sustentabilidade ecológica parece difícil de entender quando, olhando apenas para o custo da água, se percebe que Almada (tal como Vila Franca de Xira) penaliza mais o consumo até aos 10 m3. Mas Almada e Vila Franca não são dos concelhos com factura mais dispendiosa.. Em Oeiras e na Amadora, a variação para consumos de 10, 14 e 18 m3 pode oscilar entre 25% e 37%, e em Mafra, onde o negócio da água está entregue a privados, as diferenças atingem os 44% da média regional. Em Setúbal e em Sintra, onde existem outras concessões privadas, o consumo da água é sempre inferior à média..administração. Fixar tarifas, preços e deliberar sobre a administração da água compete às câmaras municipais (Lei 169/99). O negócio pode ser gerido directamente pelas câmaras ou concessionado a privados. Foi o que aconteceu em Cascais, Sintra, Mafra, Setúbal e, em circunstâncias especiais, no Parque das Nações Norte. Na cidade de Lisboa, o negócio está numa empresa de capitais públicos.. E se os preços são variáveis, os escalões de consumo não o são menos 18 concelhos e a Parque Expo apresentam 25 escalões diferentes. No mais consensual (até 5 m3), o metro cúbico oscila entre os 13 (Lisboa) e os 51 cêntimos (Sintra)..Números a ter em atenção, numa altura em que a água se torna num bem cada vez mais escasso e tanto se fala no modelo de privatização do sector.