Por razões distintas, Audrey Kathleen Ruston (ou seja, Audrey Hepburn) e William Frank Beedle Jr. (que é como quem diz William Holden) viveram com enorme expectativa, temperada de ansiedade, as semanas que antecederam o início da rodagem de Sabrina, o filme que assinalava a última etapa do contrato do realizador Billy Wilder com a Paramount Pictures. Wilder fazia questão de demonstrar aos futuros ex--patrões o tamanho do erro de uma não renovação do acordo. Por isso mesmo, chamou - por um lado - um dos seus rapazes de confiança, Holden, que resgatara a uma série de passos em falso, oferecendo-lhe o papel principal de O Crepúsculo dos Deuses (1950), estendendo a ligação com Inferno na Terra (1953); por outro, recrutou a mais recente coqueluche do cinema americano, Hepburn, uma recém-chegada a Hollywood vinda do cinema europeu, contando apenas com um cartão-de-visita, o filme Férias em Roma (1953), mas com peso suficiente para se lhe adivinhar um futuro radioso. Outra presença desejada por Wilder acabou por esfumar-se em cima da hora: Cary Grant desistiu e acabou rendido por Humphrey Bogart. Por outras palavras, mantiveram-se o mérito e a técnica, perdeu-se a empatia. Bogey chegaria a acusar os seus parceiros de plateau e o diretor de conspiração - o cancro que, em segredo, já o minava levava a que odiasse perder tempo e Hepburn, verdinha, ainda exigia muitas repetições....Tudo isto se passou há mais de 60 anos. Mas as qualidades de estrela de Audrey e de Bill ainda justificam reconstituições fartas e novas teorias. Por exemplo, no livro de Epstein, agora publicado, há quem defenda que o destino do casal poderia ter sido outro, se Holden não desempenhasse o papel de David Larrabee, que acaba por perder a guerra pelo amor de Sabrina Fairchild (Audrey), que, quando toca a assentar na vida, troca o playboy, boémio e espirituoso irmão mais novo pelo sério Linus (Bogart). Admita-se que, sabendo de todas as peripécias que envolveram o romance Hepburn-Holden - desde a necessidade de secretismo em torno da relação mas só até ao momento em que interessou à produtora deixar escapar alguns sinais de fumo sobre o "realismo da atração" entre os atores até às promessas do ator quanto à sentença final que o seu casamento iria conhecer em breve (na verdade, a filipina Brenda Marshall ou, se preferirem, Ardis Anderson, na vida real, só sucumbiria ao desejo do marido se divorciar 17 anos mais tarde) e que o deixaria livre para um compromisso com a jovem Audrey -, acaba por soar estranha esta entrega dos comandos do destino às personagens de um filme, mesmo que Billy Wilder insistisse em transformar o argumento à medida que ia rodando, até para aproveitar a cavalgada da química entre o casal..Veja o trailer de Sabrina:.[youtube:AOZuxReeNTk].Leia toda a história na edição impressa ou no e-paper do DN