Associação Bento de Jesus Caraça quer contribuir para formar cidadãos nos valores da "cultura integral"

Coimbra, 04 mai 2019 (Lusa) - A Associação Bento de Jesus Caraça, criada em Lisboa há menos de um ano, pretende contribuir para a existência de um sistema educativo que forme cidadãos nos valores da "cultura integral", como defendia o seu patrono.
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João Caraça, um dos fundadores da associação e filho do antigo matemático e professor universitário, disse hoje que "tem uma grande expectativa" de fazer "alguma coisa que tenha relevância" no momento atual, "em que há tanta turbulência e vozes desencontradas e tanta necessidade de muitas pessoas encontrarem o seu caminho".

"E o caminho de cada um só pode ser encontrado por ele próprio. Naturalmente não em isolamento, mas em diálogo e comunicação com os outros", salientou à agência Lusa, à margem da primeira iniciativa pública da associação, que consistiu na realização de um colóquio sobre "Bento de Jesus Caraça e a atualidade da cultura integral", realizado no Museu da Ciência, na Universidade de Coimbra.

Presidente do Conselho Geral da associação, João Caraça referiu que a "cultura integral do indivíduo, no sentido que o Bento de Jesus Caraça lhe deu, faz de cada um de nós um interrogador, uma pessoa que se interroga sobre si próprio, o mundo em que vive e a sociedade em que está, que é na realidade o problema central de todos os tempos".

O presidente da associação, Luís Saraiva, considerou que a obra "A Cultura Integral do Indivíduo" de Bento de Jesus Caraça tem ainda hoje "muito significado", pelo que é importante promover e divulgar o pensamento do matemático português falecido em 1948, com apenas 47 anos.

"Nós queremos ser uma ponte para transmitir estes conhecimentos às gerações mais novas, que não tiveram oportunidade de conviver com o professor Bento de Jesus Caraça nem sequer sabem das condições em que ele produziu uma obra, que ainda hoje tem imensa relevância e é importante", sublinhou.

Para outubro está já agendado um segundo colóquio com o tema "O projeto da Biblioteca Cosmos: impacto na sociedade do seu tempo e sua atualidade hoje".

Tratou-se de "uma iniciativa ímpar nos anos 40, em que Bento de Jesus Caraça publicou 145 obras em cerca de sete anos, com uma tiragem superior a 6.000 exemplares cada, numa altura em que a maioria da população era analfabeta, é uma coisa notável", realçou Luís Saraiva.

A associação pretende ainda, até final de 2019, realizar um debate sobre o sistema educativo português para "melhorar o ensino" e publicar uma fotobiografia do Bento de Jesus Caraça.

"Já há duas fotobiografias de figuras extremamente importante da nossa cultura científica, de Rui Luís Gomes e António Aniceto Monteiro e pensamos que uma fotobiografia preenche uma lacuna que havia nas obras escritas sobre Bento de Jesus Caraças", referiu Luís Saraiva.

Bento de Jesus Caraça nasceu em 18 de abril de 1901, em Vila Viçosa, formou-se no Instituto Superior de Comércio - na origem do atual Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) -, e chegou à posição de professor catedrático em 1929, com apenas 28 anos.

Criou o Centro de Estudos de Matemáticas Aplicadas à Economia, a Gazeta da Matemática, esteve no núcleo fundador da Sociedade Portuguesa de Matemática, que veio a dirigir, e publicou, em 1941, a primeira versão de uma das obras de referência, em Portugal, "Os Conceitos Fundamentais da Matemática".

Pedagogo, apaixonado pela arte, Bento de Jesus Caraça fundou igualmente a Biblioteca Cosmos, colaborou em revistas como a Seara Nova e a Vértice, trabalhou na reanimação da Universidade Popular e esteve na luta pela liberdade durante a ditadura do Estado Novo, tendo aderido ao Partido Comunista Português e participado no Movimento de Unidade Democrática (MUD) - facto que o levou à Prisão do Aljube, em Lisboa, e ao afastamento da atividade docente.

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