As sete conclusões de um estágio em busca da perfeição

Aproveitar altitude, definir táctica e onze, evitar lesões, excluir um dos 24, conquistar adeptos e aproveitar Ronaldo eram os desafios.
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Dizem que o sete é um número bíblico da perfeição. E em sete pontos se resume o estágio de 19 dias (14 de Maio a 1 de Junho, com duas folgas incluídas) passado pela equipa portuguesa na Covilhã. Aproveitar o trabalho em altitude, definir uma táctica, construir um onze-base, contrariar e debelar lesões, excluir um dos 24 convocados, conquistar os adeptos e potenciar o contributo de Cristiano Ronaldo para a equipa eram os desafios das duas semanas e meia na serra na Estrela. Quase todos foram concretizados, a pensar numa campanha que atinja a perfeição na África do Sul.

"Ganhar pulmão" era o primeiro objectivo do estágio na Covilhã. Baseando-se em estudos que apontam os benefícios do treino em altitude para o alto rendimento, o seleccionador Carlos Queiroz escolheu a serra da Estrela, a mais alta de Portugal continental, como local de estágio. A selecção portuguesa treinou na Covilhã (a 750 metros de altitude), mas pernoitou nas Penhas da Saúde (a 1600 metros de altura). E ficou bem preparada para a realidade que vai encontrar na África do Sul: viver em Magaliesburg (2000 metros) e jogar sempre abaixo dos 100 metros.

Havendo Liedson na selecção, havia uma dúvida: jogar em 4x3x3 ou 4x4x2 losango? A segunda opção foi usada, com sucesso, em alguns jogos da recta final do apuramento para a África do Sul (e é aquela em que Liedson se habituou a alinhar nos últimos anos no Sporting). Mas, apesar disso, os trabalhos na Covilhã vincaram a escolha da outra opção, o 4x3x3, com Liedson ladeado por Ronaldo e outro extremo (Simão ou Nani). Ainda assim, a segunda parte do jogo com os Camarões (vitória por 3-1) permitiu o teste de um sistema mais maleável, desdobrado em 4x4x2, com Danny como falso ponta-de-lança. Será o plano B de Queiroz?

Após duas semanas e meia de trabalho na Covilhã, o onze de Portugal ficou mais perto do desenho final, que deverá apresentar a 15 de Junho, na estreia no Mundial, no jogo contra a Costa do Marfim. Sete parecem certos. São Eduardo, Bruno Alves, Ricardo Carvalho, Raul Meireles, Deco, Ronaldo e Liedson (até porque o central do Chelsea está completamente recuperado de lesão e o médio do FC Porto mostrou-se de volta à boa forma). As dúvidas a dissipar-se são nas laterais (Paulo Ferreira ou Miguel, Duda ou Coentrão) e no outro extremo (Simão ou Nani), sendo certo que Pedro Mendes estará no onze... pelo menos até Pepe ficar a 100%.

"O mais importante é que ninguém se aleije", disse o seleccionador Carlos Queiroz, ante do particular com os Camarões (vitória por (3-1). Umas das preocupações do técnico era evitar lesões de última hora como as que a afectaram nas últimas campanhas e isso foi conseguido, apesar de um susto com Tiago após o jogo com os Camarões. As outras prioridades eram ajudar Ricardo Carvalho, Deco e Danny (jogadores com poucos jogos nas pernas esta temporada) a encontrarem a boa forma e recuperar clinicamente Pepe. Também esses desafios foram superados.

Outros dos desafios do estágio da Covilhã era escolher quem devia abandonar o lote de 24 convocados (já que se só 23 podem ir ao Mundial). Como Pepe recuperou de lesão, não houve surpresas: Zé Castro, que até se tinha mostrado em bom plano nos treinos abertos à comunicação social (fez um hat trick numa peladinha), acabou por ser o excluído, cumprindo todas as previsões. "Fico triste, mas sei que vou voltar", disse o defesa/médio-defensivo, no final da partida contra os Camarões na última terça-feira.

A campanha para a fase final do Mundial 2010 arrancou com algum sentido de descrença dos adeptos na selecção nacional, mas Covilhã e Guarda engalanaram-se para receber a selecção. E os treinos abertos ao públicos tiveram sempre três a quatro mil pessoas a assistir (era esse o limite dos bilhetes distribuídos). Um treino demasiado curto e sem futebol (no domingo, dia 23) e uma exibição apagada contra Cabo Verde, que terminou num empate sem golos (no dia seguinte), ainda podiam ter esfriado o ambiente, mas o Complexo Desportivo da Covilhã encheu e fez a festa na vitória contra os Camarões, gritando bem alto o nome de Portugal. Terá o resto do País o mesmo feeling que os covilhanenses?

À chegada ao estágio, Cristiano Ronaldo disse que quem o acusa de render mais no clube do que na "equipa das quinas" não percebe nada de futebol. Mas a verdade é que, nos últimos dez jogos pelo Real Madrid, o avançado madeirense fez oito golos. E nos últimos dez jogos pela selecção fez... zero. Potenciar o talento de Cristiano Ronaldo e aproveitá-lo mais em favor da equipa era outro dos desafios do trabalho na Covilhã, mas o atacante passou 180 minutos relativamente apagados contra Cabo Verde e Camarões. Resta esperar pela África do Sul... onde poderá - e quererá certamente - fazer toda a diferença.

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