As razões que mantêm o País adiado

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 O PS que governa o País surge na sondagem DN/Universidade Católica com o pior resultado em 23 anos (26%), desde o tempo do defunto PRD. A governação socialista é, para 80% dos inquiridos, "má ou muito má". Ninguém, mas mesmo ninguém, a considera "muito boa". E só 12% - o número a que se resume agora aquela franja de apoiantes indefectíveis - se atrevem a achá-la boa.

Estes resultados - independentemente do valor que é dado às sondagens - revelam que os portugueses estão verdadeiramente desiludidos. Sentem-se enganados. Pelo primeiro-ministro, pelo ministro das Finanças, e por todo o Governo. Não só por causa dos números errados quanto aos gastos do Estado. Das promessas não cumpridas de aumento de impostos. Ou dos sacrifícios pedidos que são sempre os últimos até à próxima vez. Também, e talvez sobretudo, por causa das sucessivas notícias do calibre das que marcaram os cinco dias de negociações do Orçamento. Porque elas revelam que se perderam cinco anos sem que nada de verdadeiramente importante fosse feito para travar o estado a que o País chegou. E mais do que das mentiras é da contínua cedência ao eleitoralismo que os portugueses estão fartos. E da constatação de que todos acabam por lhe ceder. Por verem que a política e o poder se sobrepuseram uma vez mais à resolução dos problemas do País.

Agora que o mais que esperado acordo para aprovação do Orçamento do Estado foi anunciado, viveremos mais seis a oito meses numa paz podre pesada a que os timings eleitorais da Constituição obrigam, lidando com mais e novas notícias semelhantes. Portugal continuará adiado.

Sábado (primeiro dia das negociações do Orçamento)

Donativos individuais para campanhas presidenciais sobem três mil euros

Apesar da crise económica e das anunciadas poupanças na campanha eleitoral em que entrámos, a verdade é que os deputados da Assembleia não mostraram qualquer vontade em rever o polémico regime de financiamento partidário, cuja discussão se arrasta desde Maio. E cada campanha poderá gastar mais meio milhão de euros que há cinco anos. Mais uma vez, o exemplo não vem de cima.

Domingo (dia 2 das negociações)

Antepenúltimos no crescimento económico da década

O jornal El País analisou a década económica de 180 países do mundo com base em dados do FMI. Portugal surgiu em 178.º, à frente apenas de Itália e Haiti. O problema, segundo os especialistas do jornal, está na "ausência de uma política fiscal restritiva, de um controlo das contas públicas e de uma redução de um endividamento". Um quadro por demais conhecido, por demais debatido, mas nunca resolvido. Até que uma das mais graves crises mundiais de sempre deixou a descoberto os buracos sem fundo em que Portugal se foi afundando.

Segunda (dia 3 das negociações)

O estado da justiça em Portugal segundo o Conselho da Europa

Portugal tem 294,9 profissionais da justiça por cem mil habitantes, o segundo maior número da Europa (pior só a Itália), mas também tem o segundo pior tempo de encerramento de casos pendentes. Os ordenados e as reformas destes profissionais são quatro vezes superiores à média nacional e estão entre os europeus mais bem pagos. A forma e o timing como o relatório foi divulgado - numa altura de cortes a este sector profissional - não é inocente, mas factos são factos. E há constatações que dispensam relatórios, estão à vista de todos.

Terça (dia 4 das negociações)

Portugal no 32.º lugar do 'ranking' da percepção da corrupção

Segundo mais um relatório, desta vez da Transparência Internacional sobre a percepção da corrupção no mundo, Portugal surge na 32.ª posição entre 178 países, entre os piores da Europa Ocidental. A culpa: "leis herméticas", um aparelho de justiça que "não funciona" e resultados "nulos" no combate à corrupção. Isto no dia em que o ex-ministro Mário Lino surge envolvido no caso "Face Oculta" e na véspera de serem conhecidas as acusações deste processo, contra políticos-gestores como Armando Vara ou José Penedos. Mais uma vez, a realidade supera os estudos.

Quarta (dia 5, ruptura das negociações)

Pré-aviso de 'greve' dos árbitros de futebol

Numa acção corporativa da classe, os principais árbitros ameaçaram deixar sem apito a jornada do FC Porto-Benfica dos próximos dias 6 e 7 em solidariedade para com os seus colegas dos distritais e do futebol jovem. Razão: o aumento da contribuição para a Segurança Social. Porque, sem árbitros para protestar, já se sabia contra quem iriam os adeptos da bola vociferar, o Governo sanou a situação num dia. Tal como no caso do protesto de polícias. Confinando os apitos aos relvados e aos problemas de trânsito.

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